Da habitação à mobilidade, passando pelo ambiente, inovação tecnológica, economia e tantas outras áreas, quais os passos que as cidades estão a dar para se tornarem mais fortes e responderem às novas exigências? São necessárias soluções baseadas na natureza para regenerar o espaço urbano, preparando os edifícios e criando espaços. Aproveitar o avanço da tecnologia é outro ponto fundamental e por todo o país há vários projetos imbuidos destes espírito.
Corpo do artigo
Da habitação à mobilidade, passando pelo ambiente, inovação tecnológica, economia e tantas outras áreas, quais os passos que as cidades estão a dar para se tornarem mais fortes e responderem às novas exigências? Em Coimbra, onde no mês passado a Câmara e a Plataforma Gerador promoveram o festival Cidades Resilientes, um conjunto de especialistas de várias áreas juntaram-se para "explorar novas soluções para as cidades do século XXI".Carina Gomes, vereadora da Câmara de Coimbra, lembra que estamos perante uma "crise sanitária global" que veio pôr em perspetiva a forma de "viver o quotidiano, encarar as cidades, o mercado de trabalho, os transportes públicos, o convívio", entre muitos outros aspetos.
"Temos de criar cidades que são próximas e com sentido de comunidade, por razoes económicas, ambientais, sociais e humanas", diz Helena Freitas, docente da Universidade de Coimbra e política, elencando "três grandes agendas" que considera fundamentais. "Pensar a cidade para as pessoas", em particular os mais frágeis, com dinâmicas de proximidade na comunidade. Preparar a cidade para as alterações climáticas, o que passa por com soluções baseadas na natureza para regenerar o espaço urbano, preparando, nomeadamente, as habitações e criando espaços verdes. E a agenda digital, aproveitando a tecnologia para um uso mais eficiente dos recursos e combater o desperdício.
A população quer ser ouvida na tomada de decisões e ser parte ativa na construção das cidades
Cada vez mais, acrescenta Helena Freitas, "a população quer ser ouvida na tomada de decisões" e ser "parte ativa" na construção das cidades. A docente, que integra o Conselho de missão para a adaptação às alterações climáticas, incluindo a transformação social (uma das missões do Horizon Europe, o programa de investigação e inovação da União Europeia 2021-2027),lembra que a "cooperação é fundamental para enfrentar riscos, como o da crise climática".
Alda Botelho Azevedo, investigadora no Instituto de Ciências Sociais e professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, coloca a tónica nas pessoas. Os censos tornaram ainda mais evidente que "metade da população em Portugal está muito concentrada, reside em 31 municípios, com destaque para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto". É um dos fatores que "sobrecarrega a responsabilidade das autarquias destes grandes centros urbanos relativamente àquilo que são as condições de vida e habitacionais das pessoas", alerta.
No Porto, que a fDi - Intelligence Magazine colocou, aquando dos prémios das Cidades e Regiões Europeias do Futuro 2018/19, na 8.ª posição no ranking das Cidades Europeias de Média Dimensão, o" foco tem sido promover uma melhor qualidade de vida para os residentes, tornando a cidade mais interessante e confortável".
Uma cidade com qualidade de vida consegue atrair população
Foi definido o objetivo de redução de 60% das emissões de CO2 até 2030. "Estamos no bom caminho, sendo que atualmente já reduzimos cerca de 38% das emissões de CO2 no território (base de 2004)", adianta a Câmara. A estes resultados não são alheias ações como a mudança da frota: hoje 70% de veículos ligeiros são elétricos e a frota de pesados é movida a gás natural.
O município compra eletricidade 100% renovável (algumas instalações municipais até já produzem energia para autoconsumo) e a iluminação pública, agora totalmente a tecnologia LED, irá permitir "uma eficiência energética superior a 70%"
"Uma cidade com qualidade de vida consegue atrair população", pelo que a autarquia da Invicta tem investido no tema da habitação, com programas de apoio à renda e casas a preços acessíveis. O Município é "responsável por 13% da habitação da cidade", acima da médica nacional de 2%.
Ali, como em Lisboa e noutras zonas densamente urbanizadas, as agendas políticas incluem mudanças nos transportes públicos (mais ecológicos e com tarifários vantajosos), mais vias para a chamada mobilidade suave e eficiência energética das estruturas.
Maior sustentabilidade e coesão
Lisboa, que foi escolhida entre mais de 150 cidades mundiais como um dos "21 lugares de futuro", num estudo da empresa norte americana Cognizant, a Autarquia diz ter em curso diversos projetos que apontam para uma maior "sustentabilidade e coesão".
Destaque para os "programas de habitação, em particular os de renda acessível e os de alojamento para estudantes, que permitem contrariar a pressão sobre os preços". Iniciativas como a Start-up Lisboa, o Made of Lisboa e a WebSummit, procuram incentivar a comunidade empreendedora e, por arrasto, "todo o ecossistema".
Aveiro, que tem fomentado a utilização de novas tecnologias, com projetos pioneiros como o STEAM City, procura tirar proveito do seu ecossistema institucional (que inclui a Câmara, a universidade, o Instituto de Telecomunicações, a Altice e um conjunto vasto de outras empresas), para criar novas competências e melhorar a vida das pessoas.
Ribau Esteves, presidente da Câmara, explica que estão a ser desenvolvidos vários projetos, de que são exemplo a monitorização do ar (uma rede de sensores já está a funcionar) e uma mobilidade mais sustentável (atualmente a ser executada a rede de carregadores elétricos para os barcos moliceiros).
"Procuramos, com um conjunto de capacidades técnicas, criar condições adicionais de atratividade a investigadores e empresas, para fazerem investigação e desenvolvimento de produtos, nestas áreas das tecnologias", acrescenta o edil, explicando que Aveiro é a única cidade portuguesa que dispõe de uma rede 5G piloto e tem, também, fibra ótica nas zonas centrais