Programas de mobilidade sustentável são forma de combater o uso excessivo do automóvel. São cada vez mais as cidades com condições para maior qualidade de vida.
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Portugal já tem uma Rede de Cidades e Vilas que Caminham, compromisso que pretende levar os municípios à rápida adoção de programas de mobilidade sustentável, em que a aposta nos meios suaves de transporte seja a prioridade, de forma a combater o uso excessivo dos automóveis.
A rede foi formalizada no final do congresso "Cidades que Caminham", que durante dois dias, na Fundação Manuel António da Mota (Porto), discutiu exemplos e boas práticas de políticas urbanas. Organizada pelo Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade, presidida por Paula Teles, a iniciativa escutou testemunhos de autarcas e especialistas de diversas cidades portuguesas (e também de Pontevedra, na Galiza), como Braga e Penafiel que nos últimos anos lançaram políticas que colocam os peões no topo das prioridades.
"Muito trabalho está feito, mas é preciso alcançar metas rapidamente. Os políticos têm que ter visão e não podem ter medo", frisou Paula Teles. A nova estrutura pretende acelerar esses processos, com a contribuição de municípios, especialistas e da própria sociedade civil.
Para ajudar neste objetivo, o Governo pretende acelerar a execução da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Pedonal e dotar os municípios com 200 milhões de euros, a serem aplicados em planos locais de incentivo à criação de áreas dedicadas aos peões (ler entrevista de Jorge Delgado).
"cidade para as pessoas"
Évora, no Alentejo, é um dos exemplos onde a tentativa de libertação da dependência do uso do automóvel é já uma realidade. A ideia passa por limitar o uso de veículos no perímetro histórico da cidade e, assim, oferecer mais espaço de livre uso pedonal. "Queremos recuperar a cidade para as pessoas, torná-la humanizada e caminhável, restabelecer unidades de vizinhança", explicou Daniel Valente, chefe de Divisão do Ambiente e Mobilidade da Câmara de Évora. Os carros têm sido gradualmente impedidos de chegar à chamada Cerca Velha, criando-se alternativas que os levem a circular apenas por zonas exteriores.
Na Nazaré, concelho que na época alta do verão recebe cerca de 150 mil pessoas, a autarquia proibiu ou limitou o uso do automóvel em diversas zonas nucleares, como na marginal. "Queremos que os espaços sejam usufruídos pelos nossos habitantes e por quem nos visita. A ideia do Plano de Mobilidade é implementar uma área predominantemente pedonal até 2030", destacou Walter Chicharro, presidente da Câmara Municipal.
Vila Real também aplicou medidas que privilegiam a circulação a pé ou de bicicleta. Tudo isto "apesar da orografia difícil", como lembrou Adriano Sousa, vereador com o pelouro do Território e Urbanismo na Câmara de Vila Real, e da "tendência acentuada do uso do automóvel" no interior da cidade ao longo de décadas.
Ainda assim, destacou, está em marcha um programa de alargamento de passeios, além da reabilitação de várias zonas simbólicas, como a envolvente da antiga estação ferroviária ou da Avenida de Carvalho Araújo. Em projeto há "uma ponte pedonal que pretende ligar o centro de Vila Real à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro."
Já na Guarda, foi melhorada a ligação sem recurso ao automóvel entre as zonas central e industrial. "Criaram-se novos espaços de convívio, estimulou-se o comércio. E encontrou-se forma de a cidade se voltar para a escala humana", sublinhou Diana Monteiro, vereadora daquela autarquia.
Destaque
200 milhões de euros
é o valor que o Governo pretende libertar para as autarquias, a fim de que seja aplicada a Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Pedonal.