Os efeitos da pandemia aumentaram o número de portugueses em risco de pobreza e fez disparar os pedidos de ajuda. A conclusão é de um estudo encomendado pela Cáritas Portugal, realizado entre abril e agosto de 2021. Os portugueses pediram apoio para pagar rendas, despesas de habitação, alimentação, ter acesso a computadores e necessitaram de apoio psicológico para enfrentar o impacto da pandemia
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"Nunca, como no contexto pandémico, se pôde discutir, com tanta propriedade, a expressão popular 'não ter onde cair morto'", pode ler-se no documento a que o JN teve acesso, referindo-se ao aumento da precariedade laboral.
O estudo revela que, em 2020, "30,7% das famílias portuguesas não tinham capacidade para assegurar o pagamento imediato de uma despesa inesperada sem recorrer a empréstimo, 17,4% não tinha capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida e 5,4% não conseguiam pagar atempadamente rendas, encargos ou despesas correntes".
Para a Rede Cáritas em Portugal e as Cáritas diocesanas, o problema da habitação em Portugal "é sistémico" e "não bastam medidas paliativas".
Dois milhões em risco de pobreza
De acordo com o ICOR (Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos), cerca de 2 milhões de pessoas estavam "em risco de pobreza ou exclusão social" no ano passado. O estudo demonstra ainda que "houve um forte crescimento de novos beneficiários que recorreram à Rede Cáritas" e encontravam-se em situação de privação imediata.
As entrevistas realizadas no âmbito do estudo revelam que muitos portugueses enfrentam uma dura realidade: "a incapacidade de fazer face a despesas correntes muito elevadas com rendimentos muito baixos". A pandemia provocou maior impacto nos setores económicos que mais sofreram com o fecho de atividades: turismo, restauração, comércio e serviços de apoio. Nestas áreas o desemprego e o layoff "cresceram de forma considerável".
As moratórias a créditos bancários, criadas em março de 2020, foram um grande alívio para muitas famílias e portugueses, contudo, "se até ao final do ano não se assistir a uma melhoria considerável em termos laborais (mais emprego e melhores salários)", os serviços de apoio desta rede serão novamente colocados à prova, diz o relatório do estudo.
O documento revela que "os efeitos potenciais a médio e longo prazo da pandemia só se farão sentir nos próximos tempos". Entre eles estão o atraso educacional nos jovens, o agravamento da saúde mental, a perda de habitação, entre outros.
A Rede Cáritas apoiou um total de "10 444 pessoas, 3 205 famílias" através da distribuição de cerca de 82 mil euros em valor alimentar e 167 mil euros em apoios pontuais. Das famílias que recorreram a estes apoios 60% foram novos beneficiários.
O estudo foi realizado por Ana Luísa Silva, doutoranda em Estudos de Desenvolvimento no ISEG-Universidade de Lisboa, Luís Pais Bernardo, professor auxiliar convidado na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Luís Mah, professor auxiliar convidado no ISEG-Universidade de Lisboa, e foi financiado pela E-Redes.