Confinamento, falta de exercício físico e de apoio provocam atrofia muscular e diminuem a qualidade de vida, alerta a associação que representa os pacientes. Há mais de 20 mil no país.
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O confinamento levou a um maior número de quedas e ansiedade nas pessoas com Parkinson. O alerta é lançado este domingo pela Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, quando se assinala do dia mundial da doença neurodegenerativa, que atinge cerca de 20 mil pessoas em Portugal.
"A falta de exercício físico devido a todas as restrições para ir à rua e a dificuldade de acesso a consultas e a reabilitação levam a maior probabilidade de atrofia muscular", provocando "mais quedas", uma das principais causas de morte nestes doentes, conta Ana Botas, presidente da associação.
Por causa disso, aquela entidade criou projetos para tentar minimizar o problema, nomeadamente uma linha telefónica e reuniões zoom que dão apoio psicológico a doentes e cuidadores. Têm ainda sessões de fisioterapia por telefone e enviam exercícios por correio, já que nem todos dominam as novas tecnologias.
Para prevenir especificamente as quedas, criaram o projeto Pára-Quedas. Estas ações abrangem 30 pessoas no apoio psicológico, onze nas sessões de fisioterapia por telefone e 30 na ações de prevenção de quedas.
O Parkinson atinge cerca de 20 mil pessoas em Portugal e inclui sintomas como tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio durante a marcha, ansiedade, depressão, fadiga e perda de capacidades cognitivas.
"Estou a afundar"
Maria de Fátima Rodrigues, uma ex-oficial de Justiça de Braga, com 71 anos, sente as dificuldades na pele. Há sete anos, a mão esquerda começou a tremer e chegou ao ponto de, num jantar de Natal, ter dificuldade em passar um prato de doces. Seguiu-se a rigidez muscular, com uma perna a não acompanhar a outra, a fala mais arrastada, movimentos involuntários.
"Tento não estar parada, mas tenho mais dificuldade em fazer as coisas", conta. Devido à pandemia, teve de deixar o ginásio, interrompeu as aulas na universidade sénior e pôs de lado as ações de voluntariado. "Tudo isso terminou e sinto que foi bastante prejudicial e contribuiu para o avanço da minha doença".
Maria de Fátima conta que o seu organismo sempre "lidou mal com a medicação" e a doença foi-se agravando. "Sinto que estou a afundar", desabafa. Mas a esperança numa vida com "mais qualidade" renasceu ao saber que será submetida a uma intervenção cirúrgica com um dispositivo inovador (ler caixilho). Será a segunda doente no país.
Apenas "5% a 10%" dos doentes, "aqueles que têm formas mais graves" é que são encaminhados para a cirurgia, já que geralmente o tratamento é medicamentoso, explica o neurocirurgião do Porto Rui Vaz.
Novo dispositivo personaliza o tratamento
O Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, implantou esta semana, pela primeira vez, um dispositivo inovador num doente com Parkinson. O sistema "regista as ondas cerebrais" associadas aos sintomas da doença e permite "dirigir o sítio para onde se quer a corrente", dando origem a um "tratamento individualizado", explica Rui Vaz, neurocirurgião responsável pelo procedimento. O uso deste dispositivo possibilita a administração precisa da estimulação, a simplificação do procedimento cirúrgico e a recolha de dados para uma programação mais eficiente e informada. O Hospital de S. João foi a terceira unidade hospitalar no Mundo a implantar este dispositivo, a seguir ao Hospital Universitário de Würzburg, na Alemanha, e ao Hospital Universitário Grenoble Alpes, em França.