Desconfinamento ainda não se reflete no setor que continua a acumular prejuízos há um ano. Poucos circulam nos autocarros, comboios e metros, que chegam a ter oferta aumentada.
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Os transportes urbanos de Lisboa e Porto continuam a somar quebras de cerca de 40% face aos passageiros que transportavam em período homólogo de 2019. Contudo, a maioria das empresas mantém a oferta de serviço praticamente idêntica ao período pré-pandemia. O teletrabalho continua obrigatório até 14 de junho, altura em que há potencial de melhoria dos valores de passageiros nos autocarros, metro e comboios.
As validações de títulos de viagem ou passes nos tempos pré-pandemia atingiam recordes, em janeiro e fevereiro de 2020, no Metro do Porto, com 6,3 e 6,2 milhões de validações, respetivamente. Este ano, e só no metro, foram feitas apenas 3,8 milhões de validações naqueles dois meses. O passado mês de maio ainda esteve 43% abaixo de 2019.
Naqueles primeiros dois meses pré-pandemia, em 2020, venderam-se mais de 456 mil passes Andante e isso foi mais do que os 435 mil vendidos este ano, mas só entre janeiro e abril. Na rede Andante, em 2020, fizeram-se mais de 16 milhões de validações em janeiro e muito perto disso em fevereiro. Este ano, nos mesmos meses, com o efeito do confinamento, aquele número rondou os 12 milhões.
A sul, a situação é idêntica. "O Metropolitano de Lisboa tem tido um decréscimo de passageiros transportados, sem precedentes na história da empresa", adiantou, ao JN, fonte da transportadora, que registou 23,3 milhões de passageiros nos primeiros cinco meses deste ano, em contraste com os mais de 70 milhões do mesmo período (-67%), em 2020. Para a empresa, a maior consequência são as quebras nas receitas das vendas de passes, que desceram de 22,9 milhões de euros, nos primeiros quatro meses de 2019, para 10 milhões de euros no mesmo período deste ano.
Oferta aumentada
Os passageiros da Carris não estavam a cair tanto, em maio deste ano e por comparação com o mesmo mês em 2020, mas ainda estão com uma quebra estimada de 38%. No acumulado dos primeiros cinco meses, a perda de passageiros é de 50%, mas a oferta "esteve sempre a aumentar". Segundo fonte da empresa, face ao mesmo período de 2019, a oferta cresceu 9%.
A STCP também assegura estar atualmente a trabalhar com mais 106% de autocarros do que em 2019 devido ao "reforço transitório aos dias úteis em algumas linhas de maior procura, permitindo à empresa assegurar a manutenção das condições sanitárias implementadas para esta fase de situação pandémica e garantindo a máxima segurança de todos os viajantes: passageiros e motoristas".
No mês passado, circularam 4,7 milhões de passageiros na rede STCP (menos 35% face ao homólogo de 2019), o que representa já alguma recuperação face às perdas dos primeiros cinco meses deste ano (47,8%).
Mais lenta está a ser a recuperação nos comboios urbanos do Porto da CP face aos homólogos de Lisboa. Em abril, os passageiros ainda estavam 47% abaixo dos valores de 2019, no Porto, mas já só representavam 40% nos comboios urbanos de Lisboa.
Desconfinar passageiros
Os dados do primeiro trimestre deste ano, do Instituto Nacional de Estatística, denotam um agravamento da redução de passageiros durante o segundo confinamento da pandemia. Nos primeiros três meses deste ano, os aeroportos apresentaram uma quebra de 84,4%, o transporte de passageiros por comboio recuou 51,4% e o metropolitano 65,6%, acentuando tendências anteriores. O transporte por via fluvial sofreu uma redução de 58,8%. O setor espera que, com a fase final do desconfinamento, a partir do próximo dia 14, regressem mais passageiros.
A saber
Março e abril estimados
Na rede Andante, no Porto, em 2020, as vendas de títulos de viagem e respetiva validação estiveram suspensas entre o final de março e o dia 4 de maio. Os valores da STCP e da Metro do Porto são estimativas das empresas, apontando para quebras superiores a 70% há um ano. Em 2021, nos mesmos meses, a quebra ainda ronda 40% face a 2019.
Metropolitano vazio
Em Lisboa, o Metropolitano continua à espera da recuperação, ainda com menos 67% dos passageiros (janeiro a maio) que transportava em igual período em 2019.
Urbanos aceleram
Os comboios urbanos de Lisboa são os que recuperam mais depressa em número de passageiros. Em abril, os valores já só estavam 40% abaixo dos registados no homólogo de 2019. No Porto, os passageiros ainda estão praticamente em metade de 2019, sem recuperação em 2020.
Quebra de 56,3%
Houve uma diminuição de 56,3% na receita da venda de passes no Metropolitano de Lisboa no primeiro trimestre de 2021 face a 2019.
Tejo com menos 58,6%
O transporte de passageiros no rio Tejo diminuiu 58,6% no primeiro trimestre deste ano face ao homólogo de 2020, revelou o INE.