Um papamóvel que pertenceu a Bento XVI está guardado numa garagem em Lisboa e foi transformado num tuk-tuk.
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O carro - oferecido ao Papa emérito em 2008, ano em que a empresa italiana Piaggio comemorou o 60.º aniversário - veio parar a Portugal "por acaso" e é alugado sobretudo para casamentos. "Os noivos acham graça ao facto de ter sido de um Papa e é uma experiência diferente", explica o dono.
Paulo Oliveira tem uma empresa de tuk-tuk para alugar a turistas, mas este modelo sai poucas vezes: é uma espécie de objeto de estimação guardado a sete chaves e protegido dos solavancos das colinas de Lisboa e da calçada portuguesa.
O antigo papamóvel chegou a Portugal de forma "perfeitamente inesperada", meses depois de Bento XVI ter resignado ao papado, no início de 2013. Na altura, o Vaticano decidiu devolvê-lo à marca italiana que o tinha oferecido. Por essa altura, Paulo Oliveira estava a braços com um problema. Era importador de gruas e retroescavadoras e tinha comprado um tuk-tuk na Internet "por brincadeira".
À época, ainda não existiam carros do género em Lisboa e a novidade depressa fez sucesso. "Quando saía à rua com ele, os turistas perguntavam quanto cobrava à hora. Percebi que talvez pudesse ser um negócio", recorda. Só com um tuk-tuk na garagem - hoje tem mais de 20 -, o empresário começou a distribuir flyers para publicitar passeios, até que a Câmara de Lisboa lhe encomendou 16 para os Casamentos de Santo António. Não tinha como recusar o negócio.
"Faltava pouco mais de um mês para a data e eu precisava de arranjar 15 tuk-tuk. Tive de procurar pelo Mundo todo e ir comprando um a um. O último chegou no próprio dia dos casamentos. Foi um stress gigante", recorda. Paulo Oliveira acabou assim por se tornar no pioneiro dos tuk-tuk em Lisboa.
Foi durante a procura pelos carros para o Santo António - e "debaixo de uma pressão enorme" - que descobriu o papamóvel. Um representante alemão da Piaggio contou-lhe que tinha acabado de o comprar, depois de a Santa Sé o ter devolvido à marca. Perguntou-lhe se o queria trazer para Portugal. Paulo Oliveira diz que o comprou "por curiosidade" - não revela por quanto - e o carro ainda chegou a tempo de transportar um dos casais de Santo António desse ano. Poucos notaram que se tratava de um carro do Papa, apesar dos escudos do Vaticano estampados nas portas.
Nos últimos quatro anos, o empresário recebeu várias propostas de compra de colecionadores do Mundo inteiro. Mas diz que não se desfaz do tuk-tuk papal - a que costuma chamar de "carro santificado" em conversa com os amigos. "Vou vender uma coisa que já não se arranja e é intemporal? Já vendi vários tuk-tuk, mas este não vendo", garante.
Pio XI foi o primeiro a ter um
Chama-se "papamóvel" aos carros usados pelos papas nas aparições públicas. O primeiro chefe da Igreja a ter uma viatura "especial" foi Pio XI, em 1929. Durante muitos anos, eram sempre pretos e normalmente da marca Mercedes Benz, variando de modelos com o passar dos anos e ganhando maior robustez e características modernas, como ar condicionado ou vidros antibalas.
Matrícula é sempre igual
Já a matrícula - "SCV 1", Stato della Città del Vaticano (Estado da Cidade do Vaticano) e o número 1 a simbolizar que se destina ao sumo pontífice - nunca mudou.
Passou a ser branco em 1980
A partir de 1980, o papamóvel passou a ser branco, com as armas do Vaticano, e a incluir uma cúpula de plástico transparente, com sistema de climatização e de iluminação, de modo a permitir que o Papa possa viajar sentado ou em pé. Ultimamente, Francisco tem usado uma Renault 4L.