Grandes equipamentos mantêm-se abertos, mas quebras na faturação chegaram aos 70% no primeiro ano de pandemia. Houve 89 empresas de animação turística ao ar livre que declararam o fim da atividade nos últimos dois anos.
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Os parques temáticos, de aventura e aquáticos, do norte ao sul, estão prontos para uma retoma da atividade em pleno depois de, nos últimos dois anos, terem sofrido quebras na faturação que, nalguns casos, ultrapassaram os 50%. Com falta de turistas e menos emigrantes em férias devido à pandemia, foram sobretudo os portugueses e os apoios do Governo que permitiram aos maiores equipamentos de diversão aguentar o barco. Ainda assim, entre 2020 e 2021, 89 empresas de animação turística ao ar livre, em que se incluem este tipo de negócios, declararam insolvência.
"O nosso mercado natural é 60% espanhol e 40% nacional, mas nos últimos dois anos foi 80% nacional", conta Marco Pereira, do Pena Aventura, em Ribeira de Pena, onde as quebras de faturação chegaram a 60% em 2020. O ano passado, mesmo com um verão em cheio, "até melhor do que 2019", o responsável aponta perdas "de 30% a 40%" em relação a 2019 (reportagem ao lado).
Foram, também, os portugueses que minimizaram os impactos da pandemia no Slide & Splash, em Lagoa, um dos maiores parques aquáticos do Algarve. Representaram "70% dos clientes", mais 20% do que é habitual, adianta Cláudia Correia. Ainda assim, as bilheteiras sofreram uma "quebra de 70%" em 2020 e de "50% no último ano". Resultados semelhantes ao vizinho Zoomarine, em Albufeira, que combina zoo com parque aquático. "Maio foi muito bom, estavam cá muitos ingleses. Depois, em junho e julho, chegaram restrições. Perdemos o mercado externo", recorda o administrador, Tiago Pierotti.
No Norte, em Amarante, o parque aquático manteve o perfil do cliente, entre portugueses, emigrantes e espanhóis. No ano em que a covid-19 chegou ao país, a faturação foi metade da época anterior, sendo que, no ano passado, já conseguiram um acréscimo de 10% na bilheteira. Os resultados não foram melhores, por causa das regras de lotação. "Todos os dias fechávamos o parque uma hora depois de abrir por atingirmos a lotação", conta Hélder Silva.
"Sofremos mais que outros parques, que tiveram permissão para maior lotação", corrobora Cláudia Correia, admitindo que o Slide & Splash chegou a encerrar portas em época alta, "devido ao fecho de corredores aéreos para Inglaterra", mas também à conta de "picos" de infeção no país.
Temáticos menos afetados
Apesar das dificuldades, não houve registo de insolvências dos maiores parques de diversões. O Registo Nacional de Turismo contabiliza "89 empresas [de atividades ao ar livre] que declararam o fim da atividade", sem discriminar a tipologia dos negócios.
Ao JN, os responsáveis de alguns dos principais parques temáticos e de aventura falam até de uma retoma acelerada, no último ano, suportada pelo mercado nacional. O Portugal dos Pequenitos, em Coimbra, fechou o último ano apenas "com menos 25%" dos visitantes de 2019, altura em que receberam 300 mil pessoas, revela o administrador Ivo Pimentel. O Dino Parque da Lourinhã contou 175 mil entradas, "menos 12%", contabiliza Tiago Marques. No Diverlanhoso, na Póvoa do Lanhoso, "2021 foi quase regressar à normalidade", assegura Hercílio Costa.
Todos os espaços contactados pelo JN garantiram que, para ultrapassar as dificuldades, não foi necessário recorrer a despedimentos. Houve até quem tivesse reforçado as equipas no verão, para garantir as regras sanitárias. Foi o caso do Slide & Splash, que duplicou os funcionários de limpeza nas casas de banho.
A solução para suportar os custos de manutenção nos períodos de encerramento passou por limitar atividades e serviços, recorrer a linhas especiais de crédito lançadas pelo Governo e, em alguns casos, adiar investimentos ou não pagar dividendos a acionistas. "Tivemos de recorrer a financiamento para preparar a liquidez da empresa", elucida Tiago Pierotti, sublinhando que, no Zoomarine, até avançaram com o aumento salarial que estava previsto.
Obras e atrações novas
Convencidos de que, este ano, a atividade voltará ao normal, as estruturas já preparam novidades para cativar os clientes. O Slide & Splash vai avançar com um projeto de expansão de seis hectares. O Zoomarine apresentou três novas atrações em 2020 e, esta época, vai estrear um "borboletário, que vai recriar uma floresta tropical", conta Tiago Pierotti. No Portugal dos Pequenitos foram concretizadas obras e o Pena Aventura vai avançar com novas atividades radicais.
Dino Parque enfrentou pandemia dois anos depois de abrir
O Dino Parque da Lourinhã, museu ao ar livre dedicado aos dinossauros, inaugurou em 2018 e, dois anos depois, estava a enfrentar a primeira prova de superação com a pandemia da covid-19. Em 2020, registou uma quebra de receita "de 38%", mas não precisou de recorrer a empréstimos bancários para gerir a liquidez. "Desde a abertura não foram pagos ao acionista quaisquer dividendos, tendo este decidido manter essa liquidez na empresa", justifica Tiago Marques, gestor de marketing, sublinhando que o Estado deu apenas "uma pequena ajuda" nas contas. Localizado fora das grandes áreas metropolitanas, o responsável admite que o principal desafio da pandemia foram as restrições "ao nível da circulação entre concelhos e a redução de horários".
2,7 mil milhões de euros foi quanto o Governo gastou para apoiar empresas do turismo nos últimos dois anos. 9423 é o número de empresas de animação turística e operadores marítimo-turísticos que estão registados no país
Criada associação
Em 2020, alguns empresários decidiram criar a Associação de Parques Aquáticos de Portugal para "se fazerem ouvir junto do Governo", afirma Hélder Silva, um dos dirigentes. Fazem parte 19 equipamentos.
Trabalhadores
De Vila Real ao Algarve, são milhares os trabalhadores que dependem dos parques aquáticos, temáticos ou radicais. Só o Zoomarine chega a contratar 500 colaboradores temporários no pico do verão.
Medidas de apoio
As campanhas de promoção de Portugal como destino turístico, as regras sanitárias apertadas e as extensas áreas ao ar livre contribuíram para a confiança dos portugueses nos parques, segundo os empresários.