No discurso do 49.º aniversário do 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o pluralismo é inexistente nas ditaduras e "essencial" nas democracias. Um discurso "importante" para o PSD mas que quis "relativizar uma crescente insatisfação da sociedade", aponta a IL. À Esquerda, apelos para "que se cumpra Abril", salientando o "desafio acrescido de reforçar a democracia".
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O presidente do PSD afirmou que "os extremismos fazem mal à democracia, sejam de direita ou de esquerda", e voltou a recusar o apoio de "políticos ou políticas" racistas, demagógicas ou irresponsáveis.
Luís Montenegro considerou que o discurso do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi "importante para reforçar os valores do 25 de Abril, da diversidade de opinião, do respeito e da tolerância uns pelos outros".
Discursos para "relativizar crescente insatisfação"
Para a Iniciativa Liberal, os discursos do chefe do Estado e do presidente do parlamento foram "duas tentativas de apaziguar e relativizar uma crescente insatisfação na sociedade portuguesa".
"Há falhas nos acessos aos serviços públicos, há problemas na educação, na saúde, na justiça, há falhas nas Forças Armadas e nas polícias e foram temas que passaram muito ao de leve nas duas intervenções", criticou o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva.
O deputado da IL considerou que Marcelo Rebelo de Sousa já teve "intervenções bastante mais assertivas em outros momentos", e que o discurso de Augusto Santos Silva foi quase "uma ode ao imobilismo".
"O que os tempos da democracia teriam exigido era uma sessão do 25 de Abril muito mais focada nos problemas que os portugueses vivem e não a tentativa de minimizar o que se está a passar", disse.
"Reconhecer a história é reconhecer a violência colonialista"
O BE considerou "muito oportuno" que o presidente da República "tenha denunciado a hipocrisia" de quem ataca os imigrantes num país de emigrantes, destacando a importância que teve "reconhecer a violência colonialista e a responsabilidade que Portugal tem".
"Registamos que o senhor presidente da República não só pediu desculpas pela violência da colonização portuguesa como diz que Portugal tem de assumir responsabilidades pela violência que foi essa colonização face aos povos que foram colonizados por Portugal", enalteceu Catarina Martins, considerando que "faltava esta palavra há muito tempo".
Para a líder bloquista, trata-se de um "momento importante" porque "reconhecer a história é reconhecer a violência colonialista e a responsabilidade que Portugal também tem".
"Linha clara" contra o ódio
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou que o presidente da República traçou uma "linha clara" face a quem quer alimentar o discurso de ódio e a discriminação.
"Destacamos também uma linha clara que o senhor presidente traçou em relação àqueles que visam alimentar o discurso do ódio, alimentar o discurso da discriminação e da segregação, e refiro-me aquelas que foram as suas palavras para com um país de imigrantes e de imigração", afirmou.
Inês Sousa Real considera que há atualmente "um desafio acrescido, o desafio de acarinhar e reforçar a democracia, de garantir que esta mesma democracia, que permite a pluralidade e as várias representações partidárias, não enfraqueça, não seja destruída por aqueles que querem um retrocesso a uma história que o 25 de Abril derrubou".
Três ideias
O secretário-geral do PCP defendeu que é preciso "que se cumpra Abril" e se respeite a Constituição, e admitiu ter sentido "vergonha alheia" pela postura do Chega durante o discurso de Lula da Silva.
Em declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo afirmou que, do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, retirou três ideias, começando por destacar a afirmação do chefe de Estado de que "Abril está vivo".
"De facto está vivo, nas suas conquistas, nos seus valores, aliás essa expressão das suas conquistas e valores teve expressão ontem [segunda-feira] durante a noite, hoje durante a manhã e terá expressão logo à tarde nessas avenidas e ruas do país, e em particular na Avenida da Liberdade", sublinhou.
Por outro lado, o secretário-geral do PCP referiu que concorda com o presidente da República quando diz que "Abril é do povo", sublinhando que a Revolução dos Cravos é de facto "uma consagração do povo".
Por último, o líder comunista salientou também que Marcelo alertou que, "vão-se alternando os governos e os primeiros-ministros e, no fundamental, a lei fundamental não está a ser consagrada".
"É em Abril e nos seus valores que está a resposta para os problemas que enfrentamos. É preciso então é que se cumpra Abril e em particular aquilo que é a lei fundamental, nomeadamente naquilo que consagra, desde o direito à igualdade, ao acesso à habitação, à saúde, à dignidade, ao aumento dos salários. É isso que falta cumprir", frisou.
É necessário "reconhecer as ameaças"
O deputado único do Livre afirmou que o Chega teria "dado provas da mesma falta de cortesia" se a sessão de boas-vindas ao presidente do Brasil, Lula da Silva, não se tivesse realizado no 25 de Abril.
"Não nos venham dizer que é por ser no 25 de Abril porque todos sabemos que teriam dado provas da mesma falta de cortesia, da mesma falta de educação, em qualquer dia que fosse", considerou.
Na opinião do deputado único do Livre, é necessário "reconhecer as ameaças que isso representa para o 25 de Abril" para não arriscar perder "aquilo que tanto custou conquistar".