Paula Franco: "Economia tem sinais de retoma, mas não sei se será permanente"
Paula Franco, bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, falou com o JN sobre a economia portuguesa.
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A Ordem dos Contabilistas Certificados produz, anualmente, há quase duas décadas, o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, onde a execução orçamental é analisada ao pormenor. Os dados disponíveis até junho deste ano permitem antever uma forte recuperação económica, acima da que se registava até ao início da pandemia.
A receita fiscal do Estado até junho apresenta um crescimento que já ultrapassa o último ano pré-pandemia, em 2019. Era previsível este aumento?
O excedente da execução orçamental até junho é o resultado daquilo que já se sentia, que a economia apresenta sinais fortes de retoma. Não sei se é uma retoma permanente ou se vai acabar por transformar-se em recessão, mas isso só o tempo dirá.
Pelos sinais dessa retoma económica e aumento do consumo privado, parece-lhe que será sólida?
Bem, o aumento da receita proveniente do IVA revela crescimento do consumo e que vai além daquilo que seria um aumento da receita do IVA apenas devido à inflação. Não conseguimos saber até que ponto esse aumento do consumo vai manter-se, mas creio que tão cedo não haverá inversão.
No caso da receita das autarquias, o grande crescimento é no imposto sobre transmissões. O imobiliário será fonte de receitas por muito mais tempo, numa altura em que as taxas de juro sobem e há falta de imóveis?
Após estes anos de pandemia, continua a haver vontade de mudar de casa e também há cada vez mais pessoas a vir do estrangeiro a querer comprar em Portugal, pelo que não creio que o imobiliário vá abrandar tão cedo - se é que algum dia o fará. Não sei se algum dia o imobiliário em Portugal vai voltar ao que era, quando esteve em baixa.
Porque diz isso?
O imobiliário nunca chegou a cair verdadeiramente durante a pandemia e continua em alta, mesmo com o possível aumento dos juros. Até é possível que estejam a concretizar-se agora aquisições que foram adiadas devido à pandemia, quer por parte dos particulares, quer das empresas, que mantiveram investimentos em pausa durante algum tempo e, agora, querem recuperar e aproveitar a retoma da economia.