Paulo Rangel: "A resposta nas autárquicas foi claríssima, a governação está a ser boa"
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros considera, numa entrevista ao JN e à TSF, que "a vitória robustíssima" do PSD nas autárquicas foi uma forma de os portugueses dizerem que "a governação é boa" e darem aval a Luís Montenegro. Paulo Rangel crê que "darão mais legitimidade no futuro" ao Executivo, de olhos postos num próximo mandato. As presidenciais são "uma corrida difícil", mas acredita que será Marques Mendes a vencer. O Orçamento deve deixar de ser "momento de drama".
Corpo do artigo
O PSD recuperou a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses. No entanto, perdeu câmaras importantes, como capitais de distrito. Que leitura faz destas autárquicas? A governação pesou nestes resultados?
Foi uma vitória em toda a linha. Ganhar as cinco maiores câmaras do país e autarquias como Guimarães e Beja, ou mesmo Baião e São João da Madeira, com efeito simbólico, e também Sobral de Monte Agraço, para dar um exemplo mais pequeno, é evidentemente uma vitória robustíssima. A governação terá algum efeito, nomeadamente o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que é sempre visado pessoalmente antes das campanhas. A resposta do eleitorado é claríssima: a de que a governação está a ser boa. O PSD reforçou a sua maioria nas legislativas de maio, nas regiões autónomas continua a ter resultados expressivos e também nas eleições locais. Sendo o Governo normalmente penalizado com o tal cartão amarelo, aqui é exatamente o contrário. Nas grandes autarquias, o candidato tem muita importância, mas a escala nacional tem peso. E os portugueses estão a dar um sinal de que querem estabilidade. Vamos ter presidenciais e é importante para o próximo ciclo que se compreenda que os portugueses querem que o Governo trabalhe. Para usar uma expressão mais de campanha, querem que se deixe o Luís trabalhar.
Pedro Duarte venceu no Porto sem maioria absoluta, mas quer governar sozinho, sem acordo, tal como Luís Montenegro. É a melhor estratégia?
Confio imenso no Pedro Duarte. Não via melhor candidato para o Porto, que precisa de um estímulo de modernidade. Teve um ciclo de Rui Rio, de pôr a casa em ordem. Com um papel determinante na ascensão do turismo e a importância que deu ao aeroporto e à reabilitação da Baixa, estava a pensar antes do tempo. Depois veio Rui Moreira, cujo trabalho autárquico também elogio porque foi capaz de pegar na administração rigorosa de Rui Rio e de lhe dar uma projeção cultural, de relançamento da marca da cidade. Pedro Duarte é uma nova geração. É o homem da inteligência artificial, da era digital. E tem um estilo sóbrio. Não tenho dúvidas de que o Grande Porto, com esta dupla de Pedro Duarte e Luís Filipe Menezes, vai sofrer uma transformação extraordinária.
Mas seria preferível existir um acordo no Porto?
Estamos a governar em condições análogas àquelas que vai ter o Pedro Duarte. A governação de uma autarquia depende muito mais do presidente da Câmara do que das maiorias. A sua capacidade de atuação, e da sua equipa, é muito maior do que aquela que tem um governo nacional. Se há pessoa com capacidade de diálogo e de incorporar ideias positivas dos outros é o Pedro Duarte. Haverá momentos em que será mais difícil passar esta ou aquela medida, mas acredito que o modelo de governação que escolheu é o melhor para a cidade e vai ter resultados. Conhecendo quer a lista do PS, quer o cabeça de lista do Chega, não tenho dúvidas de que haverá um espírito de cooperação com a cidade e com Pedro Duarte.
Foto: Mário Vasa
Foi candidato à Assembleia Municipal de Gaia, onde Luís Filipe Menezes regressa ao poder após ter cumprido quatro mandatos. E não foi caso único. O que estas escolhas nos dizem sobre renovação política do PSD? Com tanto passado, faz sentido dizer que Gaia regressa ao futuro?
Claro, isso foi o lema que introduzi, o regresso ao futuro. É preciso conhecer Luís Filipe Menezes e perceber o caráter visionário que teve. Salvou Gaia em 1997 da terceiro-mundização. E basta ouvi-lo, já estamos quase a ver o século XXII porque, de facto, tem capacidade de projeção daquilo que são as necessidades do momento e do município no futuro.
Quanto ao Orçamento, a "abstenção exigente" do PS retira drama a esta discussão?
Deixe-me, em primeiro lugar, dizer que o Governo fez aqui um exercício de grande responsabilidade e fazer um elogio de enorme admiração ao ministro Miranda Sarmento. Mesmo agora para a campanha presidencial, volto a dizer que é fundamental compreender que os portugueses querem estabilidade e que o Governo faça a sua política, apresente os resultados e depois poderão julgá-lo. Tenho a certeza de que estamos a governar muitíssimo bem e que os portugueses nos vão dar, como deram agora nas autárquicas, mais legitimidade no futuro. O Orçamento tem de deixar de ser um momento de drama. É um instrumento de trabalho fundamental para a política do dia a dia, mas não é o alfa e o ómega da vida dos portugueses.
Acredita que o Chega possa ainda viabilizar a proposta de Orçamento do Estado?
Aos partidos da Oposição pede-se uma grande responsabilidade. E, perante este exercício que o Governo fez, de grande seriedade e muito construtivo, darem esse sinal só os beneficiaria.
"O Orçamento tem de deixar de ser um momento de drama. Não é o alfa e o ómega da vida dos portugueses"
Marcelo Rebelo de Sousa promulgou a lei de estrangeiros, dizendo que responde "minimamente" às dúvidas de constitucionalidade. Que leitura faz desta declaração?
Levou a anterior versão ao Tribunal Constitucional (TC) e não levou esta. É porque não tem dúvidas sobre a constitucionalidade. Ele diz que cumpre. Depois, escolheu esta formulação. E respeito sempre estas formulações. Quem define a política geral do país é o Governo e tem um limite que é a Constituição. Se o presidente considera que foi cumprida, estamos muito satisfeitos com aquilo que estamos a fazer na área da lei de estrangeiros e da imigração. Critico a anterior decisão do TC. Os juízes não compreenderam bem que a Constituição não é apenas o que está escrito. É norma, facto e valor. A interpretação deve atender ao momento em que estamos.
Olhando para as leis de estrangeiros e da nacionalidade, o Chega é o parceiro preferencial?
Não é uma questão de ser parceiro preferencial. É um problema que existe. Quem acha que é uma questão do Chega verdadeiramente não percebeu nada. É o "vem aí o fascismo, vem aí não sei o quê". Por amor de Deus, estamos em 2025, não estamos nos anos 30 do século XX. É um problema demográfico da Europa e de Portugal em particular, até mais grave do que na generalidade dos países europeus. Deve ser regulado ou criamos imensos problemas às sociedades. E as sociedades reagem. Ou os partidos do Centro compreendem isto bem e, com propostas moderadas e equilibradas, procuram resolver o problema, ou ficarão os extremos a falar em todo o lado.
Foto: Mário Vasa
Leitão Amaro disse ter a expectativa de que a lei da nacionalidade seja aprovada na próxima semana. As alterações introduzidas bastam para ultrapassar as críticas dos países lusófonos?
Valia a pena ir ver a lei da nacionalidade de alguns países da CPLP porque, nem de perto nem de longe, têm uma visão tão generosa como esta versão. E não vejo críticas por aí além. Temos uma abordagem preferencial aos países da expressão portuguesa.
O PSD lidera o Governo, os executivos regionais e o poder local. Em janeiro, há presidenciais. Crê que os portugueses vão manter todos os ovos no mesmo cesto?
Acredito que sim, pelo perfil do candidato que apoiamos. Há algo que Marques Mendes garante a todos os portugueses: é moderado, justo e tem bom senso. Sabem como pensa, como atuou quando era governante, como tentou acordos de regime quando liderou a Oposição. Não foi um líder do bota-abaixo. Tem capacidade para fazer pontes e é muito prestigiado. Será uma corrida difícil, mas será Marques Mendes a tomar posse no dia 9 de março de 2026 como presidente da República. Estou absolutamente confiante. Claro que ninguém pode dar a coisa por garantida, até por haver segunda volta. É fundamental fazer o trabalho de casa.
Surgiram notícias de que pessoas ligadas a Passos Coelho querem apoiar Seguro.
Ninguém exige que todos os militantes, numa espécie de rebanho enorme nacional, se ponham ao lado daquele candidato que o PSD apoia. Marques Mendes, felizmente, tem a capacidade de ir muito mais longe. Mas tenho muita pena que alguns militantes de grande valor estejam noutra candidatura.
"Vai ser uma corrida difícil, mas será Marques Mendes a tomar posse no dia 9 de março de 2026 como presidente da República"
Foi chamado ao Parlamento para esclarecer a passagem pela Base das Lajes dos caças F-35 norte-americanos com destino a Israel. Já conseguiu apurar o que se passou?
Como vou ao Parlamento, darei lá as explicações. A questão mais importante é o processo em curso no Médio Oriente. Temos de apoiar o plano Trump porque é a única via para chegarmos a uma solução de médio prazo. Portugal contribuiu muito para isto. Teve um papel discreto, mas efetivo. Um dia escreverei sobre isso, não posso dizer mais agora. O fundamental não é estar à volta das flotilhas. Vamos facilitar o que é extremamente difícil de obter, um cessar-fogo consistente que nos permita mudar o destino daquelas populações que estão ali a sofrer tanto e com um conflito sem solução há décadas. Vamo-nos concentrar em apoiar o plano Trump, e os países Egito, Catar, Arábia Saudita, Jordânia, Turquia, que estão muito empenhados em levar isto para a frente. Israel também precisa muito da nossa ajuda. Vamos todos colaborar para conseguir uma solução de cessar-fogo, não haver mais estas matanças que o Hamas continua a fazer, não haver também reações de Israel que podem pôr em perigo este processo.
Ainda sobre as Lajes, os Açores pediram a sua intervenção, junto dos EUA, por causa dos salários em atraso dos trabalhadores portugueses.
Não precisavam de pedir porque estamos sempre em cima destes acontecimentos e em diálogo intenso com as autoridades americanas. Estamos todos empenhados em que essa questão se resolva o mais depressa possível.