Portugal irá usar todos os instrumentos diplomáticos para convencer Israel, diz Rangel
Portugal vai procurar usar "todos os instrumentos diplomáticos" à disposição para convencer Israel da posição portuguesa de reconhecimento do Estado palestiniano e de que essa decisão "visa precisamente defender a segurança" israelita, afirmou, este domingo, o ministro dos Negócios Estrangeiros.
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"Aquilo que fiz aqui é um apelo muito claro a que haja um cessar-fogo, a que se possa refrear qualquer iniciativa que possa aumentar a tensão, a violência, naturalmente, na região e, em particular, nos territórios palestinianos", disse Paulo Rangel em Nova Iorque, na sequência do anúncio do reconhecimento do Estado da Palestina por Portugal.
De acordo com o ministro, Portugal procurará fazer uso de "todos os instrumentos diplomáticos que tem à mão para ter as melhores relações" com o Governo de Israel e, ao mesmo tempo, "os poder convencer da vontade" da posição portuguesa.
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"E a nossa posição visa precisamente sempre defender a segurança também de Israel", sublinhou o chefe da diplomacia portuguesa, quando questionado sobre as declarações do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que afirmou hoje que não haverá um Estado palestiniano.
Rangel defendeu que só com um equilíbrio e um "acordo entre as duas partes", "entre aquilo que é o Estado Palestiniano e o Estado de Israel" é que pode haver também segurança para Telavive.
"Do nosso ponto de vista, também é no interesse de Israel que este processo tem de avançar", reforçou o ministro.
Portugal reconheceu hoje formalmente o Estado da Palestina, num anúncio feito por Paulo Rangel, que deixou um forte apelo ao cessar-fogo, à libertação dos reféns e ao restabelecimento da ajuda humanitária em Gaza.
"Hoje, dia 21 de setembro de 2025, o Estado português reconhece oficialmente o Estado da Palestina", afirmou Rangel, numa declaração na missão portuguesa junto às Nações Unidas, em Nova Iorque.
O primeiro-ministro israelita afirmou hoje que não haverá um Estado palestiniano, num vídeo dirigido aos líderes ocidentais, nomeadamente do Reino Unido, Canadá e Austrália, que reconheceram o Estado palestiniano algumas horas antes de Portugal.
"Tenho uma mensagem clara para os líderes que reconhecem um Estado palestiniano após o massacre atroz de 07 de outubro: vocês estão a oferecer uma enorme recompensa ao terrorismo", disse Netanyahu na mensagem, em vídeo, divulgada pelo seu gabinete.
"Tenho outra mensagem para vocês: isso não vai acontecer. Nenhum Estado palestiniano será criado a oeste do [rio] Jordão", acrescentou.
Benjamin Netanyahu afirmou ainda que o seu Governo vai expandir a colonização judaica na Cisjordânia ocupada, em resposta ao reconhecimento de um Estado palestiniano por parte de países ocidentais.
Face à posição de Netanyahu, Rangel admitiu "compreender que haja posições diferentes", mas reforçou que aquilo que o Governo português pretende "é facilitar um cessar-fogo, facilitar a paz, travar a catástrofe humanitária que está em curso e travar também a expansão dos colonatos", porque isso "dificulta muito, no futuro, a existência do Estado palestiniano em toda a sua amplitude".
O ministro garantiu que Portugal procurará fazer sempre "pontes".
"Nunca nos cansaremos de fazer este apelo também ao Governo de Israel e ao povo de Israel no sentido de apoiar uma solução que seja uma solução de paz, uma solução que respeite as resoluções das Nações Unidas, e que permita que todos vivam em segurança e em paz", frisou.
O chefe da diplomacia portuguesa assegurou ainda que a vontade do executivo português é "de ter as melhores relações com o Estado da Palestina e as melhores relações, que são, aliás, tradicionais, com o Estado de Israel".
"É isso que vamos continuar a fazer, é por isso que vamos continuar a lutar. Não temos qualquer hesitação quanto à ideia de que queremos ter relações pacíficas, profícuas, frutuosas com ambos os Estados e que, evidentemente, desejamos que Israel possa compreender esta nossa posição", disse.
Portugal, Reino Unido, Canadá e Austrália reconheceram hoje, oficialmente, o Estado palestiniano.
Na segunda-feira, quando se realiza a Conferência para a Solução dos Dois Estados, em Nova Iorque, também a França, Bélgica, Malta, Luxemburgo, Andorra e São Marino vão formalizar o reconhecimento do Estado palestiniano.