O secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, pediu hoje ao primeiro ministro para não se queixar da direita, afirmando que o Governo e o PS contou com o "silêncio cúmplice" do PSD nas medidas de austeridade.
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"Não se queixe da direita, senhor primeiro ministro. Direita política e económica que tem a consciência de que não teria força nem base social bastantes para executar as medidas económicas e sociais que estão a fazer o país andar para trás e a cobrar a factura dolorosa aos trabalhadores e à população", disse o líder comunista, dirigindo-se a José Sócrates no arranque do debate do estado da Nação, no Parlamento.
Jerónimo de Sousa acusou a direita de, com "um tacticismo pensado", querer "que o PS alise o terreno, que sangre em vida para salvar a política de direita, a garantir os interesses e privilégios dos poderosos, a concentração da riqueza à custa do empobrecimento do país e da maioria dos portugueses".
"Não se queixe, senhor primeiro ministro, a opção foi sua, do seu governo e do seu partido, mesmo depois da perda da maioria absoluta, onde afirmou que ia manter o mesmo rumo da política social", afirmou o secretário geral comunista.
O Governo contou "com o aplauso ou com o silêncio cúmplice" do PSD na aprovação do Programa de Estabilidade e Crescimento e das medidas adicionais, e para "acudir ao capital financeiro, aos que têm responsabilidades directas no agravamento da crise, transferindo verbas colossais de dinheiros públicos e reabrindo o buraco da dívida e do défice das contas públicas".
Jerónimo de Sousa acusou Sócrates de continuar "a olhar para as estrelas em vez de pôr os pés na terra e verificar que o estado da Nação não é o que disse" e voltou a questionar o Governo sobre "se é justo que paguem [a crise] tanto os culpados como os que não tiveram culpa nenhuma".
O primeiro ministro acusou o PCP e o Bloco de fazerem "um discurso sobre a pobreza e as desigualdades, que é desmentido pelos factos" e que é "apenas um embuste", citando números que tem repetido neste debate sobre a redução da taxa de pobreza e das desigualdades.
José Sócrates recusou a ideia de ter trazido ao Parlamento "um discurso optimista e muito menos estouvado", afirmando que apresentou "um discurso realista, apontando as dificuldades, mas valorizando aquilo que os portugueses já conseguiram".
O primeiro ministro reconheceu que Portugal tem de enfrentar, no crescimento económico, no emprego e a nível orçamental, "tarefas muito difíceis e exigentes", e que são necessários "coragem e ânimo".
"Acha que em 2009 ter tido decréscimo económico de 2,7 por cento, quando toda a Europa e o Mundo tiveram decréscimos muito mais significativos, não deve ser valorizado? Não devemos dizer que a nossa economia resistiu bem à crise e que o primeiro trimestre foi um dos melhores da Europa, que o crescimento das receitas é um bom indicador?", perguntou José Sócrates.