Dirigentes e diretores alertam que, sem estratégia, vai continuar a agudizar-se a falta de docentes nas escolas.
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Há escolas com dificuldades em garantir o acompanhamento à distância a alunos em isolamento profilático. A denúncia é feita pela Federação Nacional de Professores (Fenprof) e pelo Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) que defendem a criação de uma bolsa de professores de risco que garantam esses apoios. As dificuldades de substituição dos docentes vão agravar-se este ano, garantem. No Dia Mundial do Professor, o envelhecimento da classe é o problema mais grave que ameaça tanto a carreira como o ensino.
"Quando é uma turma inteira de quarentena é mais fácil - à hora da aula, o professor pode dar o apoio à distância. O problema é quando é um ou poucos alunos e ao docente, com horário completo, sobra a noite para esses apoios. Algumas escolas estão a pedir, por isso, para os professores porem apontamentos e exercícios nas plataformas", explica o líder da Fenprof.
Uma alternativa é a aula presencial ser transmitida online. Mas, para isso, frisa Júlia Azevedo (SIPE), é necessário que as escolas tenham rede e equipamentos adequados e "não pensem na proteção de dados". Daí, defendem os dois que a bolsa de professores pudesse ser uma solução, até porque o número de alunos em isolamento tenderá a aumentar e a manter-se durante o ano letivo, receiam.
Este ano, as dificuldades no preenchimento de horários começaram a sentir-se duas semanas após o arranque das aulas em alguns grupos. "Ao aumento das aposentações e baixas, que já se sente, soma-se quem pertence a grupos de risco e quem tem de fazer isolamento, gerando uma tempestade perfeita", alerta Nogueira.
0,5% COM MENOS DE 30 ANOS
De acordo com o relatório Perfil Docente, da Direção Geral de Estatísticas da Educação, no ano letivo 2018/ 2019 (dados mais recentes), apenas 0,5% dos professores das escolas públicas (633) tinham menos de 30 anos - educadores de infância, por exemplo, havia 7. Com 50 ou mais anos eram 54% (63517).
"É preciso cuidar da carreira. Já ninguém quer ser professor", insiste Filinto Lima, presidente da associação de diretores (ANDAEP).
Corrida às reformas
"Em 15 anos, passámos do segundo país da OCDE com mais jovens professores para o 34.o e penúltimo lugar, o que mostra bem o envelhecimento galopante", frisa o líder da Fenprof. Nogueira alerta que só no ano letivo passado aposentaram-se mais de 1500 professores e, até ao final de 2023, serão quase 15 mil. E se o programa da pré-reforma for aberto "com requisitos aceitáveis, serão muitos mais".
O maior problema é que continua a faltar uma estratégia que valorize a carreira e garanta um efetivo rejuvenescimento, já que os que têm vinculado têm muitos anos de serviço e em média mais de 40 anos.
Do Ensino Superior não saem candidatos suficientes para compensar as saídas e as medidas previstas no programa do Governo ainda não saíram do papel, criticam. É urgente ir buscar os milhares que saíram do sistema, insiste Nogueira. Júlia Azevedo (SIPE) pede um regime especial de aposentação e João Dias da Silva (FNE) o aumento do salário nos primeiros escalões da carreira. O risco, insistem, é as escolas encherem-se de professores com qualificações mínimas. "Seria um retrocesso de 30 anos", garantem.
Levantamento
Um levantamento feito pela Fenprof até sexta-feira detetou casos de covid-19 em 70 escolas de 50 concelhos, "de Bragança a Vila Real de Santo António, do interior ao litoral do país". A maioria das infeções são em alunos ou assistentes operacionais. Entre os professores, revela Mário Nogueira, registam-se mais casos entre os docentes de 1.o Ciclo e educadores de infância. Regra geral, os delegados de saúde não determinam o fecho das escolas, optam antes por enviar grupos de alunos ou turmas inteiras para casa em isolamento profilático. Os professores são mantidos a dar aulas "sem sequer serem, pelo menos, testados antes", critica. Outra incoerência, denuncia, são os casos positivos que determinam o isolamento de colegas de turma, mas não de irmãos que são de outras turmas e anos de escolaridade.
Fenprof no Porto
O desfile foi alterado para um encontro no Seminário de Vilar, devido à previsão de mau tempo. A valorização da carreira e a exigência de que o investimento no setor passe progressivamente de 3,5% do PIB para os 6% serão reivindicados.