Urgência fechada em Abrantes obrigou-a a ir para Santarém. Hospital e IGAS abrem inquérito.
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Uma mulher, de 41 anos, residente em Vila de Rei, Castelo Branco, deslocou-se, na madrugada de quarta-feira, ao Hospital Distrital de Santarém (HDS), por suspeitar que ia entrar em trabalho de parto. Mas, quando chegou à unidade hospitalar, o bebé já se encontrava sem vida. Grávida de risco, teve de percorrer 100 quilómetros até à maternidade mais próxima, pois a Urgência de Obstetrícia do Hospital de Abrantes, a 30 quilómetros de sua casa, estava fechada. A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) abriu um inquérito.
Pelo que o JN apurou, a mulher ter-se-á levantado com sinais de parto e foi consultar o portal do SNS para saber a que unidade de saúde se devia dirigir. Ao constatar que a Urgência de Obstetrícia do Hospital de Abrantes do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), a mais próxima da área de residência, não estava a funcionar, percorreu mais 70 quilómetros até chegar a Santarém.
"A grávida recorreu, por iniciativa própria, a esta instituição por suspeita de início de trabalho de parto", informa o HDS, onde lhe "foram prestados todos os cuidados necessários" na Urgência de Obstetrícia. Contudo, "a equipa médica diagnosticou uma morte fetal "in utero", uma situação clínica inesperada". Grávida do primeiro filho, a mulher ficou internada e está a receber apoio psicológico.
Ontem, em conferência de imprensa, o secretário de Estado Lacerda Sales disse ser "precoce antecipar qualquer tipo de conclusão", sem que a IGAS termine o processo de inspeção, destinado a "verificar se a deslocação se deveu à impossibilidade de a utente ser atendida no hospital do Médio Tejo, e se lhe foram prestados cuidados de saúde adequados".
Acompanhada no privado
A unidade hospitalar de Santarém esclarece que "a gravidez não foi acompanhada pelo Serviço de Obstetrícia do HDS". Em comunicado, o CHMT também garante que a utente foi apenas uma vez ao atendimento permanente, no dia 18 de julho, para realizar uma cardiotocografia (CTG), exame destinado a registar a frequência cardíaca fetal e as contrações no útero. Fonte da unidade acrescenta que, nessa data, estava tudo bem com o bebé e revela que a mulher era seguida no privado.
Nos últimos dois dias, a Urgência de Ginecologia e Obstetrícia do CHMT, que funciona no Hospital de Abrantes, esteve em contingência de nível 3 (máximo). No entanto, fonte hospitalar garante ao JN que se encontravam de serviço um obstetra, três enfermeiros especializados em saúde materna e uma equipa de neonatologia. "Se a mãe ou o bebé estivessem em risco de vida iminente, dávamos resposta". Não sendo o caso, explica que seria transferida para o hospital mais próximo numa ambulância do CHMT, acompanhada por um profissional.
Apesar de a utente, grávida de risco, só ter ido uma vez ao Hospital de Abrantes, o Conselho de Administração do CHMT determinou a "abertura de um inquérito de averiguações formal". Já no dia 8 de junho, um bebé morreu durante o parto no Hospital das Caldas da Rainha, que tinha a Urgência da Obstetrícia encerrada.
Casos
Junho de 2022
Uma mulher grávida perdeu o bebé no hospital das Caldas da Rainha, após ter sido submetida a uma cesariana de urgência. O serviço de urgência de obstetrícia estava encerrado. O Ministério Público abriu um inquérito.
Setembro de 2020
Uma mulher de 39 anos morreu poucas horas após ter dado à luz, no hospital de Vila Real. Cármen Fonseca tinha uma gravidez de risco e foi submetida a uma cesariana de urgência. O bebé nasceu bem. A unidade abriu um inquérito.
Agosto de 2020
Uma mulher de 42 anos morreu após dar à luz no Hospital de São Bernardo, em Setúbal. Esteve em parto induzido durante dois dias, apesar de ter sido informada de que ia realizar uma cesariana. A unidade abriu um processo de averiguações.
Novembro de 2019
Uma mulher de 24 anos perdeu o bebé às 40 semanas de gestação, no hospital de Aveiro. Thayná Ferreira foi várias vezes às urgências nas semanas anteriores. Foi-lhe diagnosticada pneumonia. Acusou a unidade de negligência.