Peritos pedem redução dos dias de isolamento e Governo prepara nova estratégia
Madeira encurta para cinco dias e DGS deverá anunciar redução ainda esta quinta-feira. Em breve pode haver mais de meio milhão de pessoas isoladas. Peritos e Direita pedem alterações.
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A redução do período de isolamento dos infetados com covid está a ser estudada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Governo admite que seria uma boa notícia para o país. Seguindo o caminho dos EUA, a Madeira deu ontem o primeiro passo, reduzindo de dez para cinco o número de dias de isolamento dos infetados assintomáticos e contactos de risco e acabando com a quarentena para quem tem três doses de vacina.
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Ao JN, a DGS diz que está a "recolher a melhor evidência científica e a avaliar tecnicamente a questão". Na noite de quarta-feira, na RTP3, Graças Freitas anunciou que novas regras de isolamento deverão ser comunicadas esta quinta-feira. Em cima da mesa está a possibilidade de reduzir o tempo de confinamento para contactos de risco e doentes assintomáticos.
Temos de adaptar o isolamento ao período de incubação e transmissão da doença, características do hospedeiro, presença de fatores e estado vacinal"
Com uma escalada sem precedentes do número de infetados - foi batido, na quarta-feira, um novo recorde, com 26 867 novos casos -, com a constatação de que a variante ómicron causa doença menos severa e perante as previsões que apontam para que, dentro de dias, possam estar fechados em casa mais de meio milhão de portugueses, há cada vez mais especialistas a pedir a revisão da norma dos isolamentos, mas não é consensual. Estados Unidos, Inglaterra e Espanha já encurtaram os períodos, os dois últimos para sete dias. A ministra da Saúde admitiu que é necessário pensar novas formas e paradigmas perante a nova variante, mas falta saber quando serão tomadas decisões. A Direita já tomou posição: o PSD saiu, na quarta-feira, a terreno para criticar a falta de planeamento do Governo e pedir mudanças, e André Ventura disse que a redução do período de isolamento "faz todo o sentido".
Na Madeira, a decisão está tomada. A partir de agora, o período mínimo de isolamento é de cinco dias se não houver sintomas da doença. Quem tiver sintomas por mais dias tem de manter o isolamento até que terminem. Também passam a ter um isolamento de cinco dias os contactos de risco não vacinados, os vacinados há mais de seis meses com a segunda dose ou quem recebeu há mais de dois meses a toma única da vacina da Janssen e não fez o reforço. Devem fazer um teste ao quinto dia e, em caso negativo, terminam o isolamento, devendo, nos cinco dias seguintes, usar máscara. Para quem recebeu o reforço da vacina e contactou com um infetado, deixa de haver isolamento.
"Não podemos gastar milhares de testes em eventos, sob pena de não termos capacidade para testar quem precisa"
Meio milhão de isolados
O epidemiologista Manuel Carmo Gomes considera que a medida devia ser replicada no continente. E explica que estas decisões têm por base estudos que indicam que a ómicron tem um tempo de incubação mais curto (cerca de três dias) e que a duração da doença é também mais curta. O matemático Óscar Felgueiras prevê que, se houver capacidade de testagem e rastreamento, Portugal poderá ter meio milhão de pessoas isoladas na próxima semana. O que poderá ter um impacto grave no funcionamento do país.
A Ordem dos Médicos apresentou um conjunto de medidas urgentes, entre as quais "a reavaliação dos períodos de isolamento e de baixa por doença ou após contacto de alto risco com testagem", tendo em atenção a presença de fatores de risco, estado vacinal e o impacto do absentismo laboral.
A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública considera que a informação científica que suporta a redução do período de isolamento "não é muito robusta", defendendo que as vantagens devem ser discutidas.
Dificuldades
Testes devem ser para quem precisa e não para aceder a eventos
Face à dificuldade de testar em tempo útil todos os suspeitos de covid-19, a virologista Laura Brum defende que os testes que estão a ser usados nos eventos (como jogos de futebol) devem ser reservados para situações de diagnóstico e de estudo de sintomas. O pneumologista Filipe Froes admite que seja necessário priorizar quem deve ser testado, começando pelos sintomáticos, não vacinados e daí em diante.