O setor das pescas está contra a implantação de aerogeradores no mar ao longo da costa portuguesa e marcou esta quinta-feira a sua posição na véspera do fim do prazo da consulta pública da proposta preliminar da Direção-Geral dos Recursos Marinhos, Segurança e Vigilância Marítima (DGRM), que designa novas cinco zonas para acolher projetos para produção de energia eólica offshore.
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Pescadores de Caminha até Sines estiveram ontem em Viana do Castelo num debate público sobre o tema, com os secretários de Estado do Mar, José Maria Costa, e da Energia e do Clima, Ana Gouveia, e o Diretor Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, José Simão. Acusaram o Governo de conduzir "mal" o processo e manifestaram descontentamento por até agora não terem sido ouvidos e preocupação face ao impacto da ocupação do espaço marítimo pelos parques eólicos na atividade e na segurança alimentar dos portugueses.
"Isto vai matar a vida empresarial. 50% das embarcações de pesca costeira vai deixar de pescar. Vai ser um problema grave", declarou o presidente da Associação de Armadores de Pesca do Norte, Manuel Marques, convidado no debate em representação do setor, e que foi várias vezes aplaudido por outros representantes presentes na plateia.
Aquele responsável alertou para a necessidade de se realizar "um estudo aprofundado sobre o que vai acontecer ao setor" e quetinou "quem vai alimentar o país", se as pescas forem afetadas como se prevê.
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"Vai chegar menos peixe a terra e o valor do peixe vai duplicar. Não podemos passar a energia à frente da alimentação", afirmou, referindo: "Vamos ter muito que conversar. O mar não é dos pescadores, é de todos, mas isto [o processo] está muito verde e temos de fazer um ordenamento do mar sem afetar o pescador".
E vincou que pesca e eólicas offshore são incompatíveis, pelo que "a ideia de quem trabalha na pesca é "não às eólicas"".
O diretor-geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, José Simão, admitiu que a pesca sairá afetada pelos futuros investimentos nas eólicas offshore, mas garantiu que o processo ainda está no início, com a apresentação do primeiro relatório em maio, e que os pescadores vão ser ouvidos. "Nada está a ser feito nas vossas costas".
Os governantes José Maria Costa e Ana Gouveia também mostraram abertura ao diálogo e indicaram que as cinco áreas propostas vão ser "ajustadas e otimizadas", até porque na altura dos leilões já existirá nova tecnologia que ocupará menos espaço marítimo. O secretário de Estado do Mar garantiu que existirão "medidas de compensação quando se tornarem necessárias".
Também organizações não governamentais de ambiente (ONGA) defenderam a exclusão de três áreas da proposta preliminar das áreas espacializadas para implantação de projetos de energias renováveis offshore, em consulta pública até amanhã. Numa posição conjunta, a ANP/WWF, a Sciaena, a SPEA e a ZERO, consideraram determinante que sejam excluídas zonas marinhas junto à costa em Matosinhos, Sintra/Cascais e Sines, onde há sobreposição com a Rede Natura 2000.