Pobreza leva jovens doentes com menos de 15 anos a não procurarem ajuda médica
O número de famílas em que os problemas financeiros condicionam o acesso a cuidados de saúde está a aumentar com os mais jovens a sofrerem com o problema. alerta um estudo sobre o acesso das crianças a cuidados de saúde.
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A percentagem de agregados familiares com jovens até aos 15 anos que não recorrem ao sistema de saúde em episódios de doença por causa de problemas financeiros aumentou a partir de 2022, alerta o trabalho "Social Equity Initiative" realizado numa parceria entre a Fundação "la Caixa", o BPI e a Nova SBE.
O estudo comparou os agregados familiares com e sem jovens com menos de 15 anos, através da análise do Inquérito de Acesso aos Cuidados de Saúde em 2022.
No ano passado, 15,63% das famílias com crianças e jovens até aos 15 anos não foram vistas por um profissional de saúde apesar de estarem doentes, segundo o trabalho dedicado ao "Acesso das Crianças a Cuidados de Saúde", que faz parte da "Série Análises do Setor da Saúde" e que permite ver a evolução do fenómeno desde 2013.
O principal motivo desta diferença são as condições financeiras destes agregados familiares. "As condições económicas do agregado familiar determinam, em considerável medida, a capacidade de acesso a cuidados de saúde, mesmo num contexto de Serviço Nacional de Saúde (SNS) que trata todos por igual", segundo o Relatório de Acesso de 2022.
Além disso, o relatório explica que essas características socioeconómicas influenciam os agregados familiares a não procurarem o serviço de saúde, pois assim evitam o investimento na compra dos medicamentos necessários para o tratamento, e a não irem a urgências ou consultas devido à sua situação económica. "Cerca de 18,37% dos inquiridos de agregados com jovens menores de 15 anos não adquiriram todos os medicamentos necessários ao tratamento do episódio de doença. Os mesmos resultados são obtidos quando se analisam indicadores adicionais, como não ir a uma urgência ou consulta por falta de dinheiro."
Segundo os investigadores da Nova SBE, Pedro Pita Barros e Carolina Santos, "na globalidade, os resultados evidenciam que a origem do problema de acesso das crianças a cuidados de saúde reside na pobreza infantil". Saúdam os mecanismos de discriminação positiva existentes no SNS, mas defendem que é preciso ir mais longe.
Para os investigadores, é necessário combater a pobreza para reduzir as barreiras no acesso à saúde e assegurar o bem-estar da população. Propõem, assim, que é necessário reavaliar a implementação de políticas de proteção social abrangentes.