No ano passado, Portugal contava 10 467 366 residentes, mais 46 mil face a 2021. Envelhecimento imparável: 185,6 idosos por cada 100 jovens. Mais de metade dos municípios perderam população.
Corpo do artigo
Pelo quarto ano consecutivo, Portugal viu a sua população residente aumentar graças à imigração. No ano passado, o saldo migratório (diferença entre entradas e saídas) fechou positivo em 86 889, naquele que é o terceiro valor mais elevado desde 1960. Somos agora 10 467 366, mais 46 mil pessoas face a 2021. Numa pirâmide etária que continua a estreitar na base e a alargar no topo, com 185,6 idosos por cada 100 jovens. Num acentuar da litoralização.
As estimativas da população residente ontem divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que o acréscimo ficou, então, a dever-se a um saldo migratório próximo de mais 87 mil, que compensou um saldo natural negativo de 40 640 - desde 2009 que os óbitos superam os nascimentos e os dois últimos anos respondem pelos piores saldos de sempre.
Um "valor elevadíssimo [saldo migratório] e só ultrapassado, desde 1960, em 1974 e 1975, quando o país vivia um período excecionalíssimo", explica, ao JN, a demógrafa Maria João Valente Rosa. Sendo que, nos anos 70, recorda, Portugal registava um saldo natural largamente positivo, com mais de 170 mil nascimentos, quando no ano passado não chegaram aos 84 mil. Valor que, mesmo assim, "não é suficiente para travar ou alterar a diminuição do índice de renovação da população em idade ativa", que caiu para 75,2 no ano passado, quando em 2011 estava em 92,7.
Numa dinâmica que esconde diferentes realidades territoriais. O Norte foi a região que, em termos absolutos, mais viu a sua população aumentar (ver infografia). Numa análise por distritos, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guarda, Portalegre, Vila Real e Viseu perderam residentes. E se olharmos aos municípios, constata-se que, entre 2021 e 2022, 52,6% viram a população diminuir. Note-se que os dados do INE reportam-se ao segundo ano da nova série de estimativas pós-censitárias.
Um país envelhecido
"O país é muito plural, muitas vezes os valores globais dizem pouco das realidades que temos do ponto de vista do território e das idades", explica Maria João Valente Rosa. Lembrando que seguem "uma grande tendência de reforço do desequilíbrio do povoamento e de acentuar do envelhecimento da população".
Comparando 2011 com 2022, percebe-se que a faixa 0-14 anos caiu de 15% para 12,9% do total de residentes e que a população em idade ativa (15-64) passou de 65,8% para 63,1%. Em sentido inverso, os residentes com 65 ou mais anos respondem agora por 24% do total, contra 19,2% em 2011. Contas feitas, no ano passado por cada 100 jovens Portugal contava 185,6 idosos. Em 2011, o índice de envelhecimento estava nos 128.
E como um saldo migratório como o do ano passado "só aconteceu três vezes", pelo que "não vamos assumir que está para ficar"; e o saldo natural continuará negativo (ler ao lado), é fundamental, defende, "continuar a investir de forma a tornarmo-nos mais atrativos do que repulsivos".