População de Freixedelo chocada com morte de idoso vítima de febre hemorrágica
A população de Freixedelo, aldeia do concelho de Bragança, está chocada com a morte de um homem de 83 anos, considerada a primeira vítima mortal de febre hemorrágica da Crimeia-Congo confirmada pela Direção Geral de Saúde (DGS) em Portugal.
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O homem, agricultor, deu entrada no Hospital de Bragança a 11 de julho, com febre, mialgias, vómitos, diarreia, depois de ter sido mordido por uma carraça, e acabou por falecer a 22 de julho. O caso, refere a DGS, “não tinha história conhecida de contactos com outros casos da doença, nem de deslocações para fora, ou, de relevo, dentro do território nacional”.
O diagnóstico foi efetuado no dia 14 de agosto, confirmado laboratorialmente após a morte do idoso. A DGS indicou que este foi o primeiro caso detetado em Portugal, mas em Espanha, em zonas de fronteira, foram detetados 16 casos desde 2013, três só este ano. “Até ao momento não foram detetados casos adicionais da doença na região norte”, refere a DGS.
Houve ainda suspeitas de um segundo caso, de uma mulher, emigrante em França e natural do concelho de Vila Flor, que esteve internada no hospital de S. João, no Porto, todavia não se confirmou a febre hemorrágica Crimeia-Congo, tendo esta patologia sido descartada por análises laboratoriais.
Em Freixedelo, aldeia da freguesia de Grijó de Parada, a população só sabe que Henrique Pires, que tinha meia dúzia de ovelhas, “andava bem de saúde, depois ficou doente". Na aldeia, dizia-se que tinha "febre da carraça e morreu muito rapidamente”, contou uma fonte da aldeia que preferiu manter o anonimato. “Eu tenho um cão e agora ainda tenho mais cuidados com os desparasitantes. Em poucos dias, é a segunda pipeta que lhe aplico e também tenho dito ao meu avô para ter cuidado pois tem um burro”.
Por estes dias decorre na aldeia a romaria anual em Honra de S. Bartolomeu, mas a morte do idoso deixou toda a gente mais triste. “Estiveram aí há umas semanas uns veterinários e uns técnicos de saúde a recolher carraças de animais, disseram que seria para analisar. A gente sempre conviveu com animais e as carraças sempre foram perigosas, mas agora teremos de ter mais cuidado”, explicou outro popular.
Entre os sintomas mais frequentes associados à picada da carraça estão febre súbita, dor de cabeça, dores musculares, diarreia, náuseas, vómitos ou conjuntivite, que exigem cuidados médicos especializados. O período de incubação da doença varia segundo o modo de contágio e a carga viral. Após a picada de uma carraça, a doença pode ocorrer entre um a três dias (no máximo, nove dias) e após o contacto com sangue ou tecidos infetados pode demorar cinco a seis dias (máximo de 13 dias).
A DGS indicou que “não há risco de surto nem de transmissão de pessoa para pessoa, evidenciando que, atualmente, se trata de um evento raro e esporádico. O vírus que causa a febre hemorrágica da Crimeia-Congo (FHCC) não foi detetado, até agora, em carraças na rede de vigilância entomológica Rede de Vigilância de Vetores (Revive), o que indica que o risco para a população é reduzido”.
Ainda assim, aquele organismo apela à população para a adoção de medidas preventivas para deteção das carraças, como o uso de roupas claras e calçado fechado durante atividades na natureza, a utilização de repelentes de insetos sobre o vestuário e a inspeção de roupas, corpo e cabelo após a atividade ao ar livre.
Em maio, foi diagnosticado um caso confirmado de febre hemorrágica da Crimeia-Congo em Salamanca (Espanha), num idoso, que foi hospitalizado e morreu.