O líder do CDS-PP desafiou hoje, quinta-feira, o primeiro-ministro a cortar 1050 milhões de euros na despesa pública para evitar o que considera ser um "segundo aumento de impostos" com os tectos nas deduções em educação e saúde.
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Paulo Portas não esqueceu o PSD e afirmou não deixar de ser "surpreendente" ouvir os sociais democratas "falar em impostos", depois de terem pedido desculpa por votarem a favor de uma subida de impostos que disseram que não viabilizariam.
Portas apresentou uma proposta de poupança em 2011 que, afirmou, permitirá arrecadar "mais do dobro do que [o Governo] consegue arranjar com o aumento de impostos".
Esse plano passa pelo corte em 10 por cento do esforço financeiro líquido do Estado nas suas empresas, voltar o consumo dos institutos públicos ao nível de 2009, reestruturar ou eliminar institutos públicos, cortar 15 por cento no consumo dos serviços integrados do Estado, reduzir nas despesas da administração da segurança social, reduzir nos gestores públicos, "moralizar" o rendimento social de inserção e uma "solução mais simples e equitativa para as SCUT".
A abrir, o deputado democrata cristão começou por atacar a intervenção inicial do primeiro ministro, que classificou de "irrealista" e "fantasiosa", ao ponto, disse, de não se admirar de um dia ouvir José Sócrates dizer no Parlamento que "Portugal ganhou o campeonato do mundo de futebol".
O primeiro ministro afirmou querer deixar as "piadinhas" fora do debate parlamentar e acusou o CDS-PP de querer "ajudar os ricos" a colocar os filhos em colégios e hospitais privados ao considerar um "aumento de impostos" a fixação de "tetos nas deduções" fiscais com educação e saúde.
Para José Sócrates, foi uma "razão de justiça" que levou à introdução do princípio de "quem mais ganha, mais deduz".
"Pergunto à classe media portuguesa, se acha bem que os mais ricos deduzam mais", questionou o primeiro ministro.
Os números da taxa de pobreza dominaram também o debate entre Portas e Sócrates, com acusações mútuas de "truques" na utilização dos dados.
"O senhor pode dizer que a taxa de pobreza desceu de 18 por cento para 17, 9 por cento, pode dizer que baixou 0,1 por cento e considerar isso uma proeza nos quatro anos da sua governação sobre os quais existem relatórios", afirmou Paulo Portas.
"O que o senhor não pode dizer em nenhuma circunstância é que quando o CDS influenciou a política social, a taxa de pobreza não desceu dois por cento", sublinhou o deputado do CDS.
O primeiro ministro disse não poder fazer mais do que pedir a Paulo Portas para ler o documento do Instituto Nacional de Estatística: "O senhor deputado pode não querer ler, eu sei que isto incomoda, mas se não se importam leiam e logo a primeira folha", disse.
Houve mais pedidos de distribuição de documentos, com o líder da bancada do CDS, Pedro Mota Soares, a afirmar a descida da taxa de pobreza durante os governos em que os sociais democratas participaram.
Mota Soares acusou o primeiro ministro de "virar a cara à realidade", depois de José Sócrates ter dito que Paulo Portas "vira a cara para o lado" quando "ouve o que não lhe interessa".