País tem 74,6% dos adultos vacinados, a quarta melhor percentagem da União Europeia. Especialista ouvida pelo JN avisa contra "manipulação" de partidos anti-ciência.
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Portugal já completou a vacinação de 74,6% da população com mais de 18 anos, o quarto melhor registo entre os países da União Europeia, mostram os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC, na sigla em inglês). O país destaca-se da média comunitária (62,2%) e só fica atrás de Malta, da Bélgica e da Irlanda (ver infografia). Ainda assim, há quem se oponha às vacinas, como prova a manifestação de sábado à noite, em Odivelas. Uma especialista ouvida pelo JN acredita que o protesto foi uma ação isolada, mas avisa contra a "manipulação" levada a cabo por alguns partidos.
A visita do coordenador do plano de vacinação ao centro de vacinação de Odivelas estava anunciada e ficou marcada pelo protesto anti-vacinas de um pequeno grupo de pessoas. Gouveia e Melo foi recebido com apupos, empurrões e insultos, tendo-se insurgido contra o "obscurantismo".
"A pandemia é a verdadeira assassina e o obscurantismo pode ajudá-la", referiu o vice-almirante na ocasião, em resposta aos gritos de "assassino". Criticando os manifestantes por quererem "impor a sua opinião", recordou que quem não se quiser vacinar "é livre" de tomar essa decisão.
Não querem dialogar
Ao JN, a coordenadora do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para analisar o comportamento dos portugueses durante a pandemia, disse ter ficado "violentamente triste" ao saber do episódio de Odivelas. Para Margarida Gaspar de Matos, é "doloroso" combater o vírus "dia e noite" e ter de assistir a tais protestos.
Ainda assim, a catedrática da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa não crê que o episódio seja "representativo" do sentimento geral do país. "Foi apenas um grupo minúsculo de pessoas a fazer muito barulho", considera, descrevendo-os como "frágeis" e "manipulados por forças políticas" que desprezam a ciência.
"São pessoas que não querem dialogar nem ser informadas", resume Margarida Gaspar de Matos. A académica relembra um episódio semelhante que viveu, há anos, durante uma conferência sobre sexualidade. Perante o ruído causado por manifestantes, o sociólogo Daniel Sampaio - outro dos palestrantes - convidou-os a entrar na sala e debater. Estes, contudo, recusaram.
A coordenadora do grupo de trabalho acredita que estes fenómenos continuarão a ser pontuais, uma vez que Portugal "não tem uma tradição negacionista forte". Lembra que apenas 15% dos portugueses adultos ainda não tomaram qualquer dose da vacina e assegura que, de entre eles, nem todos são negacionistas.
Num estudo recente desenvolvido por Margarida Gaspar de Matos junto dos jovens, só 9% dos inquiridos disseram ter "algum receio" de ser vacinados - o que a deixa otimista. Aos que não acreditam na vacina, faz um apelo: "Falem connosco. Estamos disponíveis para conversar e esclarecer".