Presidente da ANSR propõe investimentos nas estradas como barreiras, faixas sonoras e pilaretes que possam torná-las mais seguras.
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No ano passado, morreram 20 600 pessoas nas estradas da União Europeia (UE). Portugal registou uma taxa de 63 mortes por milhão de habitantes e é a quarta mais elevada dos 27 estados-membros, bem acima da média da UE (46) ou de países próximos, como Espanha (36 mortes por milhão de habitante) e França (49). Pior, só a Roménia (86), a Bulgária (78) e a Croácia (71).
De acordo com os dados preliminares divulgados ontem pela Comissão Europeia, Portugal aumentou o número de mortes por milhão de habitantes de 54 para 63, entre 2021 e 2022 (mais 16%). Outros 13 países também registaram subidas. A Comissão atribuiu este agravamento ao aumento do tráfego após a pandemia.
Relativamente a 2019 (ano de referência para as metas de 2030 e por ser anterior à pandemia de covid-19), Portugal registou uma diminuição de 5% na taxa de mortalidade em acidentes rodoviários em 2022. No entanto, a redução média na UE foi de 10%. Quatro países (Malta, Países Baixos, Luxemburgo e Irlanda) aumentaram as mortes face a 2019 e outros cinco (Estónia, Espanha, França, Itália e Suécia) tiveram diminuições inferiores às de Portugal. Mas, nos nove estados, morreram menos pessoas por milhão de habitantes.
"Nenhum plano cumprido"
A meta definida para 2030 pela UE e a ONU é que os países reduzam para metade o número de mortes e de feridos graves nas estradas. Até 2050, a meta é de zero mortes. Rui Ribeiro, presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), acredita ser possível atingir-se esses objetivos. "Estamos a trabalhar para isso", frisou ao JN, assegurando que, "em breve", será divulgada a nova estratégia pelo ministro da Administração Interna. A redução da velocidade "será uma prioridade, pois qualquer que seja a causa do acidente, as consequências serão mais graves". Portugal tem, ainda, outros dois problemas a combater, identificou: a condução sob efeito do álcool e com o telemóvel.
Além do reforço na fiscalização, Rui Ribeiro defende investimentos nas estradas que previnam acidentes, como barreiras laterais, bandas sonoras laterais ou pilaretes no meio das duas faixas nas estradas nacionais. Um estudo, baseado nos dados de 2019, revelou que os custos com os acidentes atingiam os "3% do PIB". Logo, "todos os investimentos que possam mitigar a sinistralidade são bons investimentos".
Já o presidente da Associação de Cidadãos Automobilizados não acredita que Portugal consiga cumprir as metas. Manuel João Ramos considera que a segurança rodoviária "nunca foi uma prioridade" e que, nos últimos oito anos, há mesmo "um silêncio e ausência de políticas. O resultado só podia ser este". "Não há plano ou estratégia integralmente cumpridos", garante, defendendo que é "preciso mais investimento". A carta por pontos, por exemplo, é um importante dissuasor, mas a fiscalização "é muito fraca" e feita com poucos radares.
CRÍTICA
Relatórios sem dados de mortes a 30 dias
O presidente da Associação Cidadãos Automobilizados acusa a ANSR de não divulgar, desde 2019, as mortes nas estradas a 30 dias (após os acidentes). Muitos feridos graves não sobrevivem, "pelo que não sabemos efetivamente quantos morreram nas estradas em 2020, 2021 e 2022", critica Manuel João Ramos. Os relatórios da ANSR são feitos com dados da sinistralidade a 24 horas. O último, divulgado neste mês, só tem dados até outubro. Ainda não há dados totais de 2022.
SABER MAIS
Novo pacote
A Comissão Europeia vai apresentar, nas próximas semanas, um pacote de propostas sobre a segurança rodoviária para tornar as estradas menos perigosas. Progressos são "demasiado lentos" e "desiguais", frisa comunicado.