Há um fenómeno de aumento de consumo de cocaína-crack nos países do sul e ocidente da Europa ao qual Portugal não é imune. O relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), divulgado esta terça-feira, identificou Portugal como um dos países em que o consumo daquele tipo de droga mais aumentou.
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O número de pessoas que receberam tratamento de toxicodependência por problemas com consumos de crack triplicou, na Europa, entre 2016 e 2021, o que "sugere um aumento do consumo, tendo a Bélgica, a Irlanda, a Espanha, a França, a Itália e Portugal comunicado aumentos consideráveis", aponta o EMCDDA, no relatório europeu sobre drogas 2022, que identifica tendências e evoluções dos vários tipos de estupefacientes nos 27 Estados-membros da União Europeia, mais Turquia e Noruega.
Uma das maiores preocupações dos analistas prende-se com o crescimento do consumo de cocaína em crack (ou base) na região da Europa em que Portugal se insere. O relatório indica que "é provável" que as redes de distribuição tenham aumentado a disponibilidade e, com isso, o consumo subiu. No entanto, o "aumento da privação económica durante a pandemia de covid-19" entre os consumidores de drogas vulneráveis de alto risco, associada à "disponibilidade de pequenas doses de crack baratas também podem ter contribuído".
Danos sociais e de saúde
Os observadores avisam que o consumo desta substância "está associado a uma série de danos para a saúde e a sociedade" e detetaram que "as salas de consumo de droga em Paris e Lisboa indicam que uma percentagem significativa dos consumidores de crack está a dissolvê-la para consumo de drogas injetáveis, o que aumenta os riscos de infeção pelo VIH e pelo vírus da hepatite C".
Os relatos de problemas sociais mais vastos relacionados com o crack incluem "a violência de gangues, a violência generalizada e problemas financeiros graves", assinala o relatório. O consumo de crack caracteriza-se frequentemente por ser de alta frequência, o que conduz a problemas de saúde mental e física e a um comportamento agressivo, dificultando a realização de tratamentos e respostas de redução de danos.
Apesar do risco que constitui o aumento do consumo de cocaína-crack em Portugal e nos países da Europa ocidental e do sul, o tipo de estupefaciente mais consumido em Portugal continua a ser a canábis em resina, o que se reflete no número de apreensões.
No topo das apreensões de canábis
Segundo o relatório do EMCDDA, Portugal foi o terceiro país da Europa com maiores quantidades de canábis resina apreendidos, num total de 34 quilogramas ao longo de 2020. O valor só é superado por Espanha (461 quilos) e França (50 quilos). O trio de países serve como porta de entrada da Europa para o canábis resina proveniente de Marrocos, que foi o maior produtor mundial daquele tipo de droga em 2020.
A visão mais geral do consumo de droga na Europa, plasmada no relatório da EMCDDA, apresenta "sinais de um regresso aos níveis pré-pandémicos". Por exemplo, a análise das águas residuais dos países presentes no estudo revela "aumentos do consumo de cocaína, crack, anfetamina e metanfetamina em algumas cidades entre 2020 e 2021".
A Comissária Europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, revela que "os grupos de criminalidade organizada têm exercido uma pressão incansável para tirar partido do comércio ilegal de drogas, pondo em risco a saúde pública e a segurança". A comissária manifesta "especial preocupação" com o facto de as redes criminosas terem "levado a uma disponibilidade recorde de produção de cocaína e de metanfetaminas em fase industrial na Europa". Alexis Goosdeel, diretor do EMCDDA, avisa que "as drogas tradicionais nunca estiveram tão acessíveis e novas substâncias potentes continuam a surgir" em solo europeu.
No ano passado foram comunicadas, pela primeira vez, 52 novas drogas através do Sistema de Alerta Rápido da União Europeia, elevando para 880 o número total de novas substâncias psicoativas monitorizadas pela agência. Em 2021, foram notificados, pela primeira vez, seis novos opiáceos sintéticos, seis catinonas sintéticas e 15 novos canabinóides sintéticos.