Aproveitamento em disciplinas básicas como Matemática está aquém, bem como a aposta no ensino profissional e nas profissões mais tecnológicas.
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A Comissão Europeia (CE) definiu este mês novas metas para as áreas da formação e competência e Portugal está muito longe de atingi-las, tendo de acelerar para as cumprir até 2030. É no aproveitamento das disciplinas básicas, como a Matemática ou o Português, que a distância é maior.
A União das Competências apresentada tem metas até 2030 que incluem a obrigatoriedade de, por exemplo, haver um máximo de 15% de alunos com aproveitamento negativo aos conhecimentos básicos de letras, matemática, ciências e tecnologia.
É neste capítulo que Portugal está pior. Em 2022, segundo o relatório PISA, o subaproveitamento dos alunos portugueses a matemática foi de 30%, o dobro do máximo permitido. Nas letras, o subaproveitamento foi de 23% e nas ciências de 22%.
A CE também exige que 15% dos alunos destas disciplinas tenham “alta performance”. Por cá, a matemática, apenas 7% estão neste grupo, enquanto que nas letras e nas ciências há 5% de estudantes de alta performance.
Outro objetivo da CE é que 45% dos estudantes do ensino profissional sejam de áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Neste caso, segundo a CE, havia 38,9% de alunos do profissional em áreas STEM, em Portugal, em 2022.
Bruxelas quer ainda que haja uma mulher por cada quatro estudantes (25%) nestas áreas do ensino profissional. Neste caso, apenas há dados do conjunto da União Europeia, onde a percentagem está em 15,5%. Em Portugal, segundo o presidente da Associação Nacional de Escolas Profissionais (Anespo), Amadeu Dinis, “se for uma em 20 já é muito”.
“São alunos de segunda”
O líder da Anespo diz que Portugal está aquém nas metas para o ensino profissional porque os estudantes são “altamente discriminados” e considerados “alunos de segunda com o tratamento que o Estado lhes dá”. Por exemplo, não concorrem para as universidades nos mesmos termos dos alunos do ensino científico-humanístico. É preciso, por isso, uma “reformulação profunda”, acrescenta.
Outra meta da CE é que 32% dos estudantes do Superior sejam de carreiras STEM, com 40% de mulheres. Em Portugal, no ano letivo 2021/2022 havia 27,9% de estudantes em carreiras STEM e 36% de mulheres.
Ainda no Superior, a CE quer que pelo menos 5% dos estudantes estejam em doutoramentos em Tecnologias de Informação e Comunicação, com 33% de mulheres. Esta meta é a única que está cumprida por Portugal, pois a percentagem de doutorados em TIC era de 7,7% em 2022/2023, com 33% de mulheres.
Formação de adultos regride em seis anos
O número de adultos que frequentaram pelo menos uma ação de formação no último ano está a diminuir, em Portugal. Na apresentação da União das Competências, o diretor-geral para o Emprego da CE, Mario Nava, lamentou que a educação de adultos esteja em 45% na União, quando a meta para 2030 é de 60%. “Temos de acelerar”, apelou. Em Portugal, a percentagem de adultos (entre os 25 e os 64 anos) com pelo menos uma formação nos últimos 12 meses era de 46,1%, em 2016, e desceu para 44,2%, em 2022, segundo a CE. No mesmo período, a União Europeia subiu de 43,7% para 46,6%, ultrapassando Portugal.
À lupa
Estratégia principal
A União das Competências é um documento lançado a 5 de março que passou a ser a estratégia de referência da CE para a área da formação, com metas para todos os estados-membros cumprirem até 2030.
Exigem mudanças
A Anespo exige mudanças no ensino, que passem por refundar a orientação vocacional e profissional, feita nas escolas, para que “envolva os pais” e elimine mitos sobre o ensino profissional. Exige ainda igualdade de acesso ao Superior.