Janeiro já soma mais de 830 mil novas infeções. É o equivalente ao registado nos primeiros 12 meses de pandemia. Casos até aos 9 anos duplicam. País pode ultrapassar os sete milhões na primavera.
Corpo do artigo
De dia para dia, janeiro tem batido recordes de novas infeções por SARS-CoV-2. Só neste mês, e até ao passado domingo, contabilizavam-se mais de 830 mil novos casos. Tanto quanto o registado nos primeiros 12 meses de pandemia. Com pressão sobre os mais novos: daquele total, a faixa dos zero aos 19 anos responde por um quarto. Com as infeções nos mais pequenos, até aos nove anos, a duplicarem. Com esta velocidade de transmissão, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes estima que poderemos chegar à primavera com mais de sete milhões de portugueses infetados.
Analisando o boletim de ontem da Direção-Geral da Saúde (DGS), que reporta a domingo e os dados epidemiológicos de 1 de janeiro, o país soma já mais de 830 mil casos só neste mês. O que equivale, explica, ao JN, o matemático Carlos Antunes, "aos infetados nos primeiros 12 meses da pandemia", que teve o seu início em março de 2020. No domingo, em termos acumulados, Portugal registava 2,255 milhões de casos confirmados. Olhando às faixas etárias e analisando este mês, o grupo até aos nove anos de idade é o que regista maior crescimento, duplicando o número de casos. Em 23 dias, mais de 101 mil menores contraíram o vírus. Seguem-se os dez aos 19 anos, com um crescimento de 74% (mais 114 mil). Somando os dois grupos, respondem assim por um quarto dos casos no período em análise. A que não é alheio, sublinha o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a abertura das escolas.
Com impactos claros nas faixas etárias dos pais, com crescimentos de 64% e de 66% nos 30 aos 39 anos e nos 40 aos 49 anos, respetivamente. Em sentido inverso, em janeiro contam-se quase mais 16 mil novos casos nos maiores de 80 anos (mais 18%) e perto de 26 mil nos 70 aos 79 anos (mais 33%).
Domingo marca também um novo recorde, com mais de um milhão de portugueses em confinamento, seja por infeção por SARS-CoV-2, seja por contactos de alto risco determinando isolamento profilático. Estimando Carlos Antunes que, na primeira semana de fevereiro, sejam já 1,5 milhões de confinados.
Sete milhões na primavera
Com este ritmo de transmissibilidade da Ómicron, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes projeta que, "na primavera, se ultrapasse os sete milhões de infetados" em Portugal.
"É uma inevitabilidade. A única infeção com maior transmissão conhecida é provavelmente o sarampo. Vais-nos imunizar, quer queiramos quer não. É uma ilusão pensar que podemos travar isto", frisa ao JN. Segundo o também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em causa está o "fator ampliação, estimado em 1.5/1.6 - estimativa conservadora -, ou seja, por cada infetado que conhecemos há 1.5 que não sabemos". Isto porque, prossegue, "a percentagem de assintomáticos com ómicron é maior do que com a variante delta" e que, por isso, escapam à cadeia de vigilância. "O número de casos é inferior ao verdadeiro".
A boa notícia, vinca, é que, "felizmente, o vírus é menos patogénico, com maior apetência pelo epitélio do trato respiratório superior, tendendo menos a ir para órgãos internos, nomeadamente os pulmões". Os dados de ocupação em Unidades de Cuidados Intensivos demonstram-no: "Em agosto, na quarta vaga, com a variante delta e após vacinação, tínhamos cerca de 200 pessoas em UCI, hoje estamos na ordem dos 160" com um número de casos largamente superior. E quanto aos internamentos - no domingo estavam 2348 em enfermarias -, "são pessoas com outras doenças que, após testagem de rotina, verificou-se estarem infetadas com SARS-CoV-2, sendo deslocadas para as zonas covid", desmonta Manuel Carmo Gomes.