Quase 30 mil vidas podiam ter sido poupadas se os países da União Europeia tivessem sido capazes de reduzir para metade o número de mortes nas estradas entre 2010 e 2020.
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Nem a drástica diminuição do tráfego, resultante das medidas para conter a pandemia, vai permitir alcançar essa meta. Portugal também vai falhar e, com 63 mortos por milhão de habitantes em 2019, continua a ter um dos piores desempenhos do continente.
Numa lista alargada de 32 nações monitorizadas pelo Conselho Europeu de Segurança nos Transportes, Portugal é o 24.º país na mortalidade rodoviária por milhão de habitantes em 2019, com o triplo das fatalidades da Noruega e da Suécia e quase o dobro de Espanha. "O grande problema continua a ser a sinistralidade dentro das localidades, que é muito superior à da média europeia. Em estrada ou em autoestrada, até temos bons indicadores", explica José Miguel Trigoso. O presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa sublinha dois aspetos fundamentais que mancham a segurança rodoviária lusa: o número de atropelamentos e de acidentes com motociclos e o aumento das mortes por despiste, o que, na maioria dos casos, sucede por excesso de velocidade.
Perigo dos telemóveis
Entre 2010-2019, a União Europeia baixou a mortalidade nas estradas em 24%, sendo que 17% foram conseguidos entre 2010 e 2013. A partir desse ano, a descida foi lenta e errática.
Para atingir a meta de redução para metade das mortes na estrada, seria preciso uma diminuição de 35% entre 2019 e 2020, o que "não tem precedentes e é altamente improvável", mesmo no contexto da pandemia, sustenta o Conselho Europeu de Segurança Rodoviária, alertando que bastaria a subtração anual de 6,7% na mortalidade rodoviária na última década para se salvarem 29 660 vidas.
"Ao contrário do que sucedeu entre 2001 e 2010, em que houve uma grande redução da sinistralidade, nenhum país da União Europeia conseguiu lá chegar nesta década. Uma das razões principais é o uso generalizado dos smartphones, que trouxe um agravamento muito grande à distração dos utentes que circulam na via, desde peões a condutores. É um terramoto grande que atinge todas as tarefas da condução", considera José Miguel Trigoso ao JN.
Ainda assim, Portugal conseguiu ter, neste capítulo, um melhor desempenho do que a média europeia, ao reduzir em 34,5% o número de mortes nas estradas entre 2010 e 2019. Na lista dos países que mais mortes evitaram, ocupa a 6.ª posição.