A viagem direta de avião que, sábado, 238 adultos e três bebés fizeram desde a ilha de S. Bartolomeu, nas Caraíbas, até ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro vai ficar na história daqueles emigrantes portugueses.
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Pela primeira vez efetuaram o percurso sem escalas, fretando um avião de uma companhia privada, uma vez que, segundo dizem, a companhia aérea portuguesa TAP "praticamente recusou fazer o serviço por apresentar um preço demasiado elevado".
"Estou muito satisfeita porque assim a viagem foi mais rápida. Foram oito horas de voo que antes, com escalas em Amesterdão ou em Paris, demorava o dobro", conta Cristina Carvalho, a trabalhar há dez anos nas Antilhas francesas. "O meu marido já estava lá. Fiz-lhe uma visita e optei por ficar. Foi o calor!", conta, com a filha Maiva Sofia ao colo, que também viajou neste voo experimental. Uma experiência a reeditar graças ao empenho do cônsul e presidente da Associação Desportiva e Cultural Portuguesa de S. Bartolomeu, Albino Silva.
As filhas mais velhas de Cristina vieram de Braga para a receber. "É tudo gente do Minho, de Braga e Guimarães, mas também do Marco de Canaveses e de Baião", conta Luís Ferreira, gerente da Essenci Travel, com sede na Boavista, e que juntamente com o cônsul conseguiu fretar um avião charter da companhia aérea privada Hi Fly, que costuma transportar a equipa do F. C. Porto nas suas deslocações.
O cônsul Albino Neiva Silva preferia que fosse a TAP a fazer o transporte. "Contactamos a empresa por três vezes e ficamos com a sensação de que não queriam fazer o serviço porque após cada contacto o custo do voo aumentava. Optamos por recorrer, contra a vontade dos emigrantes que queriam uma companhia de bandeira, a uma empresa privada e iniciar este processo que não foi fácil pois há sempre uma série de dificuldades a ultrapassar", diz
De barco até St. Maarten
A TAP justifica que "é impossível voar para todos os locais onde há portugueses". Fonte da empresa explicou ao JN que "fazer a ligação daquela ilha a Portugal está fora de questão por razões comerciais". A mesma fonte esclarece que o normal procedimento da empresa nestes casos é apresentar o valor do custo, "o que terá sido feito, mas terá sido recusado".
Seja como for, o serviço da Hi Fly continuará a ser requisitado, até porque quase metade da população da ilha francesa de S. Bartolomeu são emigrantes portugueses.
Num curto espaço de 24 quilómetros quadrados vivem cerca de 2750 nortenhos e que, numa ilha sem aeroporto, tiveram ontem de iniciar a viagem de barco até à ilha vizinha de S. Martinho (Saint Maarten), pertencente à Holanda.
"Foi muito complicado porque tivemos sempre de cumprir, durante todo o percurso da viagem, as normas de prevenção da covid-19", declara o emigrante Daniel Correia.
Todos regressam às Caraíbas no dia 31 de agosto. Apesar de ninguém referir preços, afirmam que valeu a pena a viagem direta até ao Porto e que estes voos da Hi Fly serão retomados no Natal e na Páscoa, assim como no verão do próximo ano.
Trabalho na construção civil e no turismo
Os portugueses passaram a emigrar para as Caraíbas há pouco mais de 20 anos, trabalhando essencialmente nas áreas da construção civil e do turismo. Nos últimos anos, no entanto, começaram a emigrar para a ilha, território pertencente à França, jovens com formação superior em enfermagem e arquitetura. Nas contagens mais recentes, S. Bartolomeu tinha 9279 habitantes, sendo que a maioria são cidadãos franceses.