Um terço dá nota positiva, outro terço opta pela negativa, mas há outros sinais de desgaste. Razão mais do lado dos motoristas (31%) do que dos patrões (9%).
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O mês de agosto foi marcado pela "crise dos combustíveis" e pela reação musculada do Governo. Quando os motoristas desistiram, a conclusão foi quase unânime: o Governo tinha vencido a batalha pela conquista da opinião pública. Perceções que uma sondagem da Pitagórica para o JN e a TSF desmentem. São quase tantos os portugueses que dão nota positiva (31%) ao Governo nessa crise, como os que lhe dão nota negativa (30%).
A greve ficou marcada pela "mão de ferro" com que o Governo antecipou e enfrentou os seus efeitos. Serviços mínimos transformados em serviços máximos. Recurso à requisição civil, quando um punhado de motoristas ensaiou a desobediência. Polícias e militares ao volante de camiões. Com protestos escassos, incluindo à Esquerda. Num país a banhos, decretou-se assim a vitória de António Costa. Por KO.
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Os portugueses não demonstram o mesmo grau de unanimidade vertido por comentadores e políticos. Se a opinião sobre a atitude de motoristas (47% dão nota negativa ao Sindicato) e patrões (46% dão nota negativa à Antram) é clara e cáustica, há menos certezas sobre o papel do Governo no decorrer do conflito.
Apoiantes e críticos
Na avaliação ao Executivo, a divisão é evidente. Para a nota positiva pendem os cidadãos mais velhos (44%), os que têm maiores rendimentos (36%), os que vivem em Lisboa (39%) e os que se dizem eleitores do PS (47%). Ao contrário, os mais críticos da ação governativa são os inquiridos mais novos (37%), a classe média-baixa (38%), os que habitam no Porto e no Norte (32%) e os que se dizem eleitores do PSD e CDS (38%).
Quando se cruzam as respostas sobre a atuação socialista na "crise energética" com as do barómetro regular ao desempenho do Governo, ganha peso a ideia de que este nada ganhou na gestão do conflito de agosto com os motoristas de matérias perigosas.
Há até sinais contrários, ou seja de desgaste da imagem do Governo. Seja porque as avaliações positivas descem um ponto percentual face a julho (para 30%), seja porque as negativas crescem cinco (para 28%). A pouco mais de um mês das eleições legislativas, os mais críticos são os cidadãos das faixas etárias dos 35/44 anos (34%), os habitantes do Grande Porto (41%) e os potenciais eleitores do PSD e CDS (44%).
Quem tem razão?
Gestão política à parte, quando se pergunta quem tem a razão do seu lado, os trabalhadores têm um apoio considerável (31%), comparando com os patrões (9%).
Ao lado dos motoristas (na reivindicação, não necessariamente na forma de luta) estão sobretudo os mais jovens (42%), os de menor rendimento (39%), os que vivem no Grande Porto (40%) e os que votam na CDU (46%).
AVALIAÇÃO
Catarina passa Cristas como rosto da Oposição
Em agosto, a líder do BE, um dos partidos que suportam o Governo no Parlamento, ganhou pontos como líder... da Oposição ao Governo. Desde o início do barómetro, em abril, Catarina Martins duplica o seu resultado (chega aos 16%), ultrapassando Assunção Cristas, do CDS, com um percurso inverso (27% em abril, 13% em agosto). Estão ambas longe de Rui Rio, ainda que o presidente do PSD tenha caído oito pontos percentuais (para os 30%). Um ranking cuja liderança tem um interesse duvidoso, tal a percentagem de avaliações negativas ao desempenho da Oposição (sobe mais cinco pontos, para 61%).
BARÓMETRO
Presidente perde apoio à esquerda do PS
O presidente da República está em baixa no barómetro de agosto da Pitagórica para o JN e a TSF. Continua a merecer uma avaliação positiva esmagadora (87% dizem que a sua atuação é boa ou muito boa), mas desce cinco pontos percentuais relativamente ao mês de julho, marcando o valor mais baixo desde abril.
No outro lado do espelho, sobem também cinco pontos as avaliações negativas: são agora 13%. Num mês que costuma ser de férias e de acalmia política, Marcelo Rebelo de Sousa destacou-se sobretudo em dois episódios controversos: a promulgação das novas leis laborais, que mereceram duras críticas da CGTP e a ação concertada do PCP e do BE para requerer a fiscalização do Tribunal Constitucional; e o apoio às posições do Governo, durante a greve dos motoristas de matérias perigosas.
Quando se detalha a avaliação por grupos de eleitores, é à Esquerda que o apoio a Marcelo mais definha: não entre os eleitores do PS (quase 97% dão-lhe nota positiva), antes entre os que votam CDU e BE, onde perde quase uma dezena de pontos percentuais de julho para agosto.
A queda é ainda mais acentuada quando se pede aos portugueses que decidam em quem mais confiam, se no presidente, se no primeiro-ministro: Marcelo desce sete pontos e é agora a opção de 53% dos inquiridos. Sendo que não há uma troca direta. António Costa continua com os mesmos 8%. Os maiores adeptos do presidente são os que têm mais rendimentos, os que vivem no Porto e em Lisboa e os que votam na Direita.
DADOS
65% dos inquiridos
Defendem que Marcelo deve ser mais exigente com o Governo (valor igual ao de julho). Os que mais pedem esse rigor são os que votam PSD e CDS.
Muito mau
São valores quase residuais, mas é possível perceber quem são os que dão pior nota a Marcelo: 55/64 anos (3,4%); menor rendimento (3,6%); Grande Porto (3,6%); eleitores da CDU (6,4%).
Muito bom
Por outro lado, os que fazem a avaliação mais positiva estão na faixa dos 55/64 anos (32,3%); classe média-baixa (30,3%); residentes de Lisboa (27,9%); e os que votam PS (35,5%).