Os dados do último Relatório Planeta Vivo apontam para um aumento da pegada ecológica dos portugueses face a 2020: os portugueses precisam agora de 2,88 planetas para manter os seus hábitos de consumo excessivo de recursos, quando em 2020 estava calculado em 2,52 planetas. O relatório tem vários outros dados preocupantes, como uma diminuição sem precedentes das populações de várias espécies, muitas das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta e Portugal tem a sua quota de responsabilidade. Somos o 2.º país a nível mundial que mais carne de tubarão exporta e o 6.º maior importador de carne de raia, duas espécies cuja abundância caiu 71% nos últimos 50 anos.
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Os portugueses precisam atualmente de 2,88 planetas para manter os seus hábitos de consumo de recursos, um aumento face a 2020 (2,52 planetas). A conclusão é da WWF/ANP, uma ONG portuguesa que luta pela conservação da diversidade biológica e dos recursos naturais. A 14.ª edição do seu Relatório Planeta Vivo (RPV) confirmou o agravar dos hábitos de consumo em Portugal.
O mesmo relatório regista uma queda média de 69% na abundância de vida selvagem desde 1970 e, por isso, alerta para o estado grave da natureza e para a necessidade de governos, empresas e cidadãos implementarem ações transformadoras e de reversão da degradação ambiental.
Portugal não está isento de responsabilidade, particularmente no que diz respeito às raias e tubarões. Portugal é o 2.º país a nível mundial com maiores exportações conhecidas de carne de tubarão e o 6.º maior importador de carne de raia em termos de volume, espécies cuja abundância diminuiu 71% ao longo dos últimos 50 anos. Assim, e segundo o relatório, a implementação de "medidas para a proteção destas espécies em Portugal" teriam um forte impacto, "o que justifica a criação de um Plano de Ação Nacional para a Gestão e Conservação dos Tubarões e Raias", lê-se.
Menos vida selvagem
"A vida selvagem continua a decair de forma alarmante, o que traz graves consequências para a nossa própria saúde e subsistência, e Portugal não está isento de responsabilidade. Apelamos ao Governo e empresas do nosso país para que não ignorem sinais de urgência enviados pelo nosso planeta", afirma Ângela Morgado, diretora executiva da WWF/ANP. "O declínio da biodiversidade sente-se também em Portugal e afeta-nos a todos", acrescenta.
Quanto mais biodiversidade as regiões têm, maiores serão as suas perdas. Esta parece ser a tendência que a WWF regista globalmente. Particularmente porque os dados Índice Planeta Vivo revelam que, entre 1970 e 2018, as populações de animais selvagens que eram monitorizadas nas regiões da América Latina e Caraíbas caíram, em média, uns significativos 94%.
Mas os dados impressionantes não se ficam por aí: as espécies de água doce monitorizadas caíram em média 83%, o maior declínio de qualquer grupo de espécies, a maior parte devido à perda de habitat e barreiras às rotas de migração.
Marco Lambertini, diretor-geral da WWF Internacional, diz estar "deveras preocupado" com os números avançados. "Enfrentamos duas emergências: as emergências climáticas provocadas pelos seres humanos e a perda de biodiversidade, que ameaça o bem-estar das gerações atuais e futuras", sublinha.
Reunião do COP15
Dezembro é o mês assinalado para a próxima reunião dos líderes mundiais na 15.ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção sobre a Diversidade Biológica e a WWF Internacional defende que da reunião deve sair um acordo "ao estilo de Paris".
"Na COP15, os líderes têm a oportunidade de redefinir a nossa relação com a natureza e garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos, assinando um acordo para garantir a biodiversidade que seja global, ambicioso e positivo para a natureza", afirmou Marco Lambertini.
A WWF é uma organização de conservação independente, com mais de 35 milhões de seguidores e uma rede global ativa através da liderança local em mais de 100 países.
A missão da WWF é parar a degradação do ambiente natural e construir um futuro em que as pessoas vivam em harmonia com a natureza, através da conservação da diversidade biológica do planeta, assegurando que o uso de energias renováveis é sustentável e através da promoção da redução da poluição e consumo dispendioso.