Estima-se que o valor do negócio de entregas ao domicílio possa representar, pelo menos, 144 milhões de euros em Portugal. A grande distribuição domina, mas há plataformas a atuar no mesmo segmento.
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Os portugueses são cada vez mais adeptos do "e-commerce" e das entregas ao domicílio. E não estamos a falar apenas de eletrónica, livros ou música, mas também das compras do supermercado. Além do Continente, do Auchan ou do El Corte Inglés, que entregam em casa, há plataformas como o Mercadão que faz as compras no Pingo Doce e as leva a casa em duas horas. Quanto vale no total este segmento de negócio é um número difícil de apurar. A Kantar fala em 5,1% a nível mundial e em 1,6% em Portugal, ou seja, um valor aproximado dos 144 milhões de euros. A Sonae MC diz que cresce a dois dígitos e "cada vez com maior aceleração".
A investir nas vendas online "há praticamente duas décadas", a Sonae MC, proprietária do Continente, assegura que o e-commerce alimentar "tem uma representatividade crescente no negócio e um potencial de crescimento muito significativo". Pedro Santos, diretor de e-commerce, não avança com números de vendas, sublinhando, apenas, que "as categorias mais procuradas são as alimentares, embora o maior crescimento seja nos frescos".
Outras modalidades
A entrega em casa é a modalidade preferida, mas há um grande crescimento no "Click&Go", o serviço de compra online e levantamento na loja. O Continente dispõe, ainda, de outras soluções, como a entrega ao domicílio de compras efetuadas na loja, ou as parcerias com operadores de entrega instantânea, como a SendEat ou a Glovo.
"Temos apostado muito na complementaridade entre o digital e o físico, o mais relevante é que a experiência de compra do consumidor seja a melhor possível", frisa Pedro Santos. Também o El Corte Inglés tem vindo a apostar na complementaridade da oferta. "Os consumidores online são muito focados no preço e no serviço, e têm um perfil bastante mais jovem. Os clientes omnicanal são muito mais fiéis e ponderam todas as variáveis associadas ao produto, designadamente o serviço e a garantia. Os hábitos de consumo destes clientes são bastante mais consideráveis, o que nos faz acreditar que a estratégia omnicanal é, sem dúvida, uma grande aposta", diz o responsável da área digital da cadeia.
"Personal Shoppers"
Sobre o peso do e-commerce nas vendas totais da cadeia em Portugal, António Tomé Ribeiro refere que depende muito das categorias de produto. "Nalgumas pode chegar aos 15%, noutras é apenas residual porque o canal online serve, sobretudo, como suporte à tomada de decisão", sublinha.
Numa época em que proliferam as aplicações de entregas online, há também portugueses a apostar neste negócio. É o caso do Mercadão, criado por Gonçalo Soares da Costa, Ricardo Monteiro e Elísio Santos, todos com larga experiência no e-commerce, e que está operacional desde 2018. Hoje conta com 20 mil clientes e uma equipa de 100 "personal shoppers", com grande destaque em Lisboa e Porto, e que assegura a ida à loja, a escolha dos produtos e a entrega ao domicílio. Um serviço "altamente personalizado, flexível e rápido", que arrancou com o Pingo Doce, mas está a ser alargado a outras insígnias, como a Bodyshop, Ornimundo, LEV, Arcádia ou Science4you. E quem é o cliente tipo do Mercadão? É mulher, dos 30 aos 45 anos, casada e com filhos, que trabalha e tem pouco tempo para se deslocar à loja", diz Ricardo Monteiro.
Perfil
Oito horas a fazer compras alheias
Nome: Francisco Silva
Cargo: "Shopper" do Mercadão
Durante 25 anos foi funcionário de uma empresa de rent-a-car, mas, em 2014, com a concentração do setor, viu-se desempregado. Um amigo falou-lhe do Mercadão e resolveu experimentar. Hoje dedica cerca de oito horas por dia a fazer as compras alheias e a entregá-las ao domicílio, e gosta da experiência. Nunca teve grande dificuldade em fazer compras e até acha a atividade interessante. Com dois filhos (um engenheiro e outro ainda a estudar), Francisco encontrou uma ocupação. "Vai dando para a sopa e um croquetezito", graceja.