
Diretores relatam alunos mais irrequietos, nervosos, ansiosos, tristes, menos tolerantes
Pedro Granadeiro / Global Imagens
Diretores estão preocupados com "mazelas" da pandemia. Ordem dos Psicólogos estima que procura de ajuda "quase triplicou" este ano.
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Há cada vez mais alunos a procurar ajuda nos Serviços de Psicologia e Orientação (SPO) dos agrupamentos escolares, alertam os diretores, preocupados com "as mazelas" deixadas pela pandemia e que ficaram evidentes no primeiro período de aulas que acaba hoje. A Ordem dos Psicólogos estima que os pedidos de apoio tenham "praticamente triplicado" este ano, tanto nas escolas como nos serviços de saúde, públicos e privados.
O ano letivo arrancou sem máscaras a assinalar o início da fase pós-pandemia. Foi "a parte boa", referem os presidentes das duas associações de diretores que, no final do primeiro período, destacam como uma das suas principais "preocupações" a alteração do "perfil de aluno". Estão "mais distantes, mais isolados, mais irrequietos, mais nervosos, mais ansiosos, mais tristes, menos tolerantes, menos atentos", enumeram. O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) garante que cada vez mais são os alunos que procuram ajuda nos SPO. "Sentimos isso e penso que é generalizado", assegura Filinto Lima, admitindo que em alguns agrupamentos os recursos são insuficientes e que os 1100 técnicos especializados contratados no ano passado deviam permanecer no sistema.
A vice-presidente da Ordem dos Psicólogos confirma o alerta dos diretores. "Não temos números exatos de cada escola ou serviço, mas temos conhecimento efetivo do aumento da procura por apoio e sabemos que esses pedidos praticamente triplicaram" este ano, assume Sofia Ramalho. É um problema de saúde pública e com dimensão mundial, explica. Têm sido publicados diversos estudos que apontam para maiores níveis de "ansiedade, depressão, sofrimento psicológico, aumento de conflitos (bullying e ciberbullying) e de dependências, nomeadamente online", aponta.
Nas escolas, defende, o número de psicólogos tem sido reforçado, apesar de os contratos serem anuais. Situação mais grave, alerta, é a escassez de psicólogos "onde são mais precisos": nos serviços de saúde. A estimativa da Ordem é que nos centros de saúde deviam estar, "pelo menos, mais mil psicólogos". Com o reforço feito no ano passado, o rácio nas escolas é de um psicólogo por 694 alunos; no Ensino Superior é de um por 3238 estudantes; e nos centros de saúde de um por cada 41 188 habitantes.
"Uma bola de neve"
Isabel Pinto é psicóloga escolar há 23 anos. Colocada este ano num agrupamento de Gaia, assegura que o SPO tem recebido mais pedidos de ajuda, especialmente "por iniciativa dos próprios alunos". "A ansiedade está muito ligada à aprendizagem. Dizem constantemente: não sei estudar, não vou conseguir. Têm baixa autoestima e o problema cresce como uma bola de neve. As notas não correspondem às expectativas e ficam cada vez mais tristes e desmotivados, entrando num quadro depressivo".
Este ano, assume, tem-se mesmo notado "mais casos de pré-depressão e depressão". A maioria das famílias tem "aceitado bem" o encaminhamento para serviços de saúde. O maior problema é conseguirem uma resposta pública. Entende que não deviam ser os psicólogos escolares a fazer este tipo de acompanhamento, mas os SPO acabam por ser a primeira porta aberta que encontram. "Uma coisa são dois ou três técnicos para 800 alunos, outra é para 3000", além de que a maioria dos psicólogos escolares são contratados. O JN confrontou o Ministério da Educação mas não obteve resposta.

