No início de dezembro quase 20 mil alunos estavam sem todos os professores. Diretores dizem que Educação está a "desagregar-se" e "sem rumo" à vista.
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Entre 17 de setembro e 2 de dezembro, os agrupamentos lançaram 8477 horários para contratação direta pelas escolas. No início do mês, de acordo com as contas do dirigente da Federação Nacional de Professores, Vítor Godinho, 19 770 alunos não tinham professor a, pelo menos, uma das disciplinas. Sensivelmente o mesmo número do ano passado. O que significa que as medidas de mitigação aplicadas pelo ministério "não surtiram grande efeito, insiste. O problema não desapareceu, mantém-se".
De acordo com o "contador" da Fenprof, a semana entre 28 de novembro e 2 de dezembro foi a única onde se registaram menos de 25 mil alunos sem todos os docentes. Na primeira semana do ano letivo, 82 485 não tinham todas as aulas. O número caiu para menos de 30 mil no fim de outubro.
A maioria dos horários lançados em contratação de escola no primeiro período foram em Lisboa (3308), Setúbal (1444) e Faro (751), contabiliza Vítor Godinho. E os grupos para onde foram pedidos mais professores foram os de Português (848), Informática (651), Inglês (609) - todos do 3.º Ciclo e Secundário -, Educação Especial (507) e Pré-Escolar (472).
Recorde de aposentações
"A nossa grande preocupação é a escassez de professores que está a alargar-se ao resto do país", defende Filinto Lima. O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) assegura que as escolas sentem um aumento nas baixas e cada vez maiores dificuldades na substituição de docentes.
Para Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), o "futuro não se vislumbra risonho". O Ministério da Educação, diz, "parece estar a desagregar-se com parte das competências transferidas para as autarquias e serviços para as CCDR. Qualquer dia, o ministro vai ter de perguntar à colega da Coesão Territorial o que se passa nas escolas", ironiza. Manuel Pereira insiste que os diretores estão "muito preocupados. Não se vislumbra um rumo".
Os dois insistem que a carreira tem de ser valorizada para atrair mais jovens e que é "essencial" a criação de apoios para os que estão deslocados. Há mais docentes no Norte que têm de aceitar mudar -se para o Sul. O ano de 2022, recorde-se, fechou com número recorde de aposentações (2401). E "se a boa parte fosse dada possibilidade de mudar de profissão, eles aceitavam se ficassem mais perto de casa", garante Manuel Pereira.
Desde outubro decorrem negociações sobre a revisão do regime de concursos. A Federação Nacional de Educação está, para já, à margem dos protestos. "Queremos apostar em reduzir a precariedade através de um maior número de vinculações nos quadros de escola", explica João Dias da Silva.