Um guia para encher o mealheiro numa fase em que as dificuldades financeiras nos complicam as finanças pessoais. Com uma nota à cabeça: tudo começa com uma mudança comportamental. Saiba como a fazer.
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A inflação segue teimosamente acima do valor recomendado (5,3% em 2023), a economia já dá sinais de abrandar (o FMI reviu a previsão em baixa, dos 2,6% para os 2,3%), o BCE continua a carregar nas taxas de juro (a subida das taxas Euribor já ultrapassa os 80%). E nisto a carteira ressente-se, os gastos são cada vez mais, o dinheiro vai-se num ápice, muitas vezes não chega sequer para suprir os custos, pensar em poupar, então, chega a parecer uma utopia. Os números são claros como a água: se durante a pandemia a taxa de poupança das famílias atingiu um pico de 13,7% do rendimento disponível (no primeiro trimestre de 2021), desde então que esta tem vindo a cair a ritmo acelerado, ao ponto de no primeiro trimestre deste ano se ter fixado nos 5,9%, um dos valores mais baixos dos últimos 23 anos. Mas calma, ainda não é tempo de atirar a toalha ao chão. Pelo menos não sem antes ler o guia que preparámos para si. E, sim, nele encontrará conselhos específicos e diferenciados por temas, que o ajudarão a reduzir a lista de despesas em áreas-chave do quotidiano. Mas, antes disso, e porque as dicas de pouco servirão se não tiverem subjacentes mudanças mais estruturais, perceba porque é que a alteração de comportamentos é fundamental para um desfecho bem-sucedido.
Sérgio Cardoso, chief academic officer do Doutor Finanças, empresa especializada em finanças pessoais e familiares, começa precisamente por aí. “Costumo dizer que as finanças pessoais têm mais de pessoal do que de finanças. Porque a verdade é que para o nível do comum dos mortais não é preciso dominar a área das finanças. Os comportamentos é que são a chave disto tudo.” Comportamentos esses que começam em algo tão simples como registar tudo. André Pedro, diretor geral do ComparaJá, uma plataforma gratuita de comparação de produtos bancários, pacotes de telecomunicações e serviços de energia, detalha este ponto. “Termos um registo de todas as nossas despesas mensais ajuda a perceber para onde vai o nosso dinheiro e pode ser automaticamente uma forma de pouparmos, pois vamos perceber que há custos que facilmente podemos reduzir.” E se os clássicos, como o Excel ou o papel, são aliados seguros nestas andanças, Cristiana Cerqueira Leal, professora da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e investigadora do NIPE - Núcleo de Investigação em Políticas Económicas e Empresariais, lembra que atualmente há já outras opções mais sofisticadas para o efeito. “Há uma série de aplicações que podem ajudar na gestão financeira do dia a dia. Seja para o pagamento pontual das contas, para fazer orçamentação, para o planeamento. Muitas permitem sincronizar com a conta bancária, categorizam onde estamos a gastar o dinheiro e até nos dão dicas de como poupar. Nalguns casos, funcionam com base em conceitos de gamification [a aplicação de técnicas e dinâmicas de jogos noutros contextos diversos], o que as torna muito interessantes para um público mais jovem.” Ao que apurámos, a Mint, a Fudget ou a Prism são exemplos de opções interessantes.