Na estação de Vila Real de Santo António, há nove anos que valores estão abaixo da média. Temperaturas acima de 2022. Na quinta-feira, foi batido recorde.
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Nos últimos seis anos hidrológicos, os valores de precipitação estiveram, consecutivamente, abaixo do normal. Com destaque para 2021/2022, que foi o terceiro mais seco desde que há registos. Para já, os valores acumulados do presente ano hidrológico, que se iniciou em outubro, estão ligeiramente acima da média. Mas as temperaturas têm estado sempre acima, exceto em fevereiro.
De acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) ao JN, no ano hidrológico em curso, e até ao passado dia 15 de abril, a precipitação acumulada era superior ao valor médio 1971-2000, "apesar de muito próximo". Comparando com o ano anterior, o "valor é muito superior, com uma diferença de cerca de 350 milímetros". Com variações espaciais significativas.
Analisando de perto a região algarvia, cujas disponibilidades hídricas fazem antever mais um verão complicado, com o Governo a avançar já com medidas de contingência, diz-nos o IPMA que regista "um défice muito longo de precipitação". Na estação meteorológica de Vila Real de Santo António, os últimos nove anos registam valores de precipitação inferiores ao normal; na de Faro, contam-se oito. De referir, ainda, que o sotavento "encontra-se em seca meteorológica há 15 meses", oscilando entre fraca e severa.
Termómetros a subir
No que às temperaturas concerne, neste ano hidrológico o valor médio do ar tem estado sempre acima do normal (série 1971-2000), exceto, nota o IPMA, em fevereiro, "que foi igual". Comparando com o ano passado, exceto nos meses de janeiro e fevereiro esteve sempre acima. Sendo que entre os dias 2 e 11 de abril verificou-se uma onda de calor em metade das estações da rede. Situação que se está a agravar nesta semana, com algumas estações a baterem recordes de temperatura máxima.
Fatores que fizeram a seca alastrar a quase 80% do território, com aumento da sua intensidade no Sul, onde predominam as classes de seca mais graves: a severa e a extrema.
"Tudo previsível", diz o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos. Apesar de "não conseguirmos dizer em que anos vai chover menos, sabemos que há uma tendência de descida da precipitação média anual, o que é mais notório do Sul do país". Pelo que se medidas de adaptação como a utilização de águas residuais urbanas tratadas ou as centrais de dessalinização já estivessem desenvolvidas - estão a arrancar -, "a situação não era tão grave", vinca o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.
O professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Rui Cortes põe a tónica na importância de "moderar os consumos na agricultura", que responde por "74%". Setor que "continua a falar em transvases e na construção de mais barragens". Mas também, diz o perito em recursos hídricos, nos preços da água, "bastante baixos"; e nas elevadas perdas de água.
Temperaturas
Mora chegou a 36,9ºC
O IPMA registou, ontem, a temperatura máxima do ar mais alta de sempre para o mês de abril. O registo deu-se na estação meteorológica de Mora, no Alentejo. O anterior recorde vigorava há 78 anos. Na origem do calor está "uma massa de ar quente e seco proveniente de África" disse Ricardo Deus, do IPMA, ao JN.
Metade em máximos
A massa de ar quente fez com que metade das estações do país tivessem atingido recordes, ontem. As regiões com mais calor foram o Alentejo, a Lezíria do Tejo, a Beira Interior e o Nordeste Transmontano. Até agora, o abril mais quente tinha sido o de 2005, sendo que 2022 também foi quente e estava no quarto lugar.