Vendas baixaram nas farmácias no ano passado. Dificuldades económicas das famílias justificam.
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A venda das vacinas contra o HPV, o vírus do papiloma humano responsável pelo cancro do colo do útero, diminuiu no ano passado. Também os rastreios, outra principal forma de prevenção, sofreram uma quebra. O preço elevado também afasta as mulheres e são precisas três doses.
A Associação Nacional das Farmácias registou, em 2020, uma queda de 5,8% na comercialização daquelas vacinas, o que representa menos 2010 unidades. Em causa, explica Daniel Pereira da Silva, ex-diretor do serviço de ginecologia do IPO de Coimbra, estarão dificuldades económicas das famílias, provocadas pela pandemia de covid-19.
"A pandemia tem um impacto económico brutal, com desemprego e redução dos salários. Também diminuiu o recurso aos serviços de saúde para outras doenças que não a covid-19". Isto terá levado mais pessoas a "adiarem" a toma de uma vacina. A esmagadora maioria das mulheres que hoje têm até 27 anos estão vacinadas, resultado da inclusão daquela vacina no Plano Nacional de Vacinação (PNV). Todas as outras têm de recorrer às farmácias e suportar o custo, que vai de 70 a 140 euros por dose e são necessárias três doses.
Atualmente existem três vacinas, que protegem contra dois, quatro ou nove tipos de HPV. A vacina contra nove tipos pode proteger até 95% dos casos de cancro do colo do útero, a de dois "apenas" contra 70%. Em 2018, este cancro provocou 225 mortes em Portugal, mais 7% que em 2017.
Comparticipar
Daniel Pereira da Silva defende que as vacinas para as mulheres não abrangidas pelo PNV sejam "comparticipadas. Falamos de uma medida altamente eficaz e que merece ser comparticipada", sublinha. "A vacinação permite uma resposta de anticorpos mais robusta e eficaz, mesmo para aquelas mulheres que já tiveram contacto com o vírus. Há mulheres com infeção latente, que podem ser portadoras e, só mais tarde, desenvolvem a doença".
O HPV é responsável por um elevado número de infeções. Mais de 90% são assintomáticas e de regressão espontânea, mas "nunca sabemos quem está na percentagem que desenvolve doença", alertou. Em 2020, também os rastreios, que permitem detetar lesões precocemente, "foram altamente prejudicados", acrescenta o médico, sem conseguir quantificar.
Em 2019, a cobertura era elevada e havia uma taxa de adesão de 87,9%. De acordo com dados da Direção-Geral da Saúde, naquele ano houve mais de 288 mil mulheres convocadas, das quais 253 mil foram rastreadas. Um total de 12565 casos positivos foram referenciados para os hospitais.
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Transmissão
O HPV genital é transmitido, sobretudo, durante o sexo vaginal, oral ou anal. Não é tão comum, mas também pode acontecer em contactos sem penetração.
Muitas infeções
Estima-se que cerca de 75% das pessoas ativas sexualmente venham a ser infetadas por HPV em alguma altura da vida. Na maioria dos casos, o sistema imunitário controla e não evolui para doença sintomática.
Tipos mais perigosos
Estão identificados mais de 200 tipos de HPV. Os tipos 16 e 18 provocam 70% dos casos de cancro do colo do útero. As três vacinas no mercado protegem contra estes dois tipos.
Prevenção essencial
O cancro do colo do útero é um dos carcinomas com maior probabilidade de prevenção e de cura, o que pode ser feito através da vacinação e da deteção precoce em rastreios.
Vários cancros
O HPV é responsável por todos os cancros do colo do útero, mas não só. Também está associado ao cancro da orofaringe, ânus, pénis, vulva, entre outros.
Rapazes vacinados
O PNV inclui a vacinação para raparigas desde 2008. Em outubro do ano passado, passou a incluir a vacina contra o HPV para todos os rapazes, aos 10 anos.