Os mais mal pagos da Europa, cada vez mais longe da média europeia e mais isolado no último lugar. É assim, diz a Aprolep, que estão os produtores de leite em Portugal. Em junho, receberam 38,2 cêntimos por litro. Os colegas europeus, em média, mais 11,2 cêntimos.
Corpo do artigo
Em setembro, haverá um aumento geral de três cêntimos. A cadeia de hipermercados Pingo Doce, da gigante Jerónimo Martins, já anunciou uma atualização "extra" de oito, elevando para mais de 50 cêntimos o preço pago aos seus produtores. A bem do autoaprovisionamento lácteo e da soberania alimentar, a Associação dos Produtores de Leite de Portugal desafia todos os compradores a fazer o mesmo e aponta o mau exemplo do Brasil onde, com a crise instalada, "o leite é mais caro do que a gasolina".
"Esperava-se que a abertura do mercado de cereais da Ucrânia baixasse os preços das rações, mas talvez por causa da seca em toda a Europa, Estados Unidos, Canadá e China, as produções serão inferiores e as várias matérias-primas usadas nas rações mantém-se com preços elevados", afirma, em comunicado, a Aprolep. A situação é de tal forma grave que, em França, por exemplo, já há uma redução significativa na produção, cujo excedente costumava ser vendido a Espanha a preço de saldo.
Em junho, dizem os dados da Comissão Europeia, Portugal atingiu a maior diferença de sempre no preço pago ao produtor face à média europeia (11,2 cêntimos), ficando a 2,2 cêntimos do penúltimo classificado da lista dos que pior pagam à produção - a Hungria.
Julho já trouxe um aumento de dois cêntimos e setembro trará novo aumento, desta vez de três cêntimos. Ainda assim, diz a Aprolep, não chega.
"A atualização do preço do leite em Portugal, nos últimos anos, veio sempre tarde, abaixo dos custos de produção, abaixo do mercado europeu e sempre em reação ao aumento do preço de outros compradores ou à procura de compradores espanhóis", frisa a associação, lembrando a subida brutal dos fatores de produção (eletricidade, gasóleo, adubos e rações) e as quebras na produção de forragem, motivadas pela seca que, nalguns casos, fez cair em 50% a produção de milho. O resultado, diz, é o desânimo no setor, o fecho de vacarias e o aumento de animais para abate.
A Aprolep pede que o preço do leite deixe "de ser arma de arremesso na guerra pela quota de mercado entre os vários supermercados e as indústrias", numa guerra que "esmaga os produtores" e está a "colocar em causa o autoaprovisionamento lácteo e a soberania alimentar" do país.
"Numa altura de crise não devemos deixar que um alimento essencial e completo como o leite falte nas prateleiras ou seja substituído por leite importado a preços incomportáveis, tal como acontece neste momento no Brasil onde os consumidores estão a pagar o leite mais caro do que a gasolina", remata, desafiando todos os compradores nacionais a "subir de forma imediata o preço do leite ao produtor para atingir um valor médio de 50 cêntimos por litro".