Abriu há 37 anos para ensinar estilos de vida saudáveis. Não resistiu às dificuldades provocadas pela pandemia.
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Vai fechar o primeiro Instituto Macrobiótico de Portugal do país, em Lisboa, e um dos pioneiros da Europa, ao final de 37 anos. Não resistiu às dificuldades financeiras trazidas pela pandemia e à perda do seu principal impulsionador, Francisco Varatojo, que faleceu em 2017. "Ele era a alma do instituto", confessa Geninha Horta Varatojo, que o fundou com o marido. Quinze funcionários efetivos ficarão sem emprego e cerca de 20 professores deixarão de dar ali aulas a partir de julho.
Quando o Instituto Macrobiótico abriu, em 1985, Portugal ainda era "muito fechado" a novos hábitos alimentares. "Era preciso estar muito doente para mudar a alimentação. As pessoas não eram recetivas. Agora, é moda", diz Geninha, que admite que "muito mudou desde então", e muito graças ao instituto. Hoje, não há supermercado que não tenha uma secção dedicada a artigos mais saudáveis e "abriram muitos restaurantes". "Abrimos muitas portas. Nos supermercados, em Lisboa, havia meia dúzia de produtos e no resto do país não existia. Não é fácil implementar uma alimentação destas", reconhece.
Na dieta macrobiótica privilegia-se o consumo de cereais integrais, sementes e leguminosas, mas é muito mais do que isso. "É uma forma de estar, perceber como as nossas escolhas diárias têm impacto no planeta", explica a fundadora. Começaram com 12 alunos que foram aumentando, recebendo anualmente cerca de 300, portugueses e estrangeiros. Eram a única fonte de financiamento do espaço.
"De estranho a "cool""
Desde cursos de culinária e macrobiótica certificados pelo Estado, fizeram palestras, consultas, "showcookings", retiros e até festivais, que a covid-19 veio parar. "Tivemos de fechar o restaurante e a loja durante a pandemia e comecei a usar as reservas para pagar aos funcionários, 15 efetivos, mais os professores. Custou muito decidir fechar", desabafa.
O restaurante e a loja encerraram no final de fevereiro, mas até julho ainda é possível frequentar os cursos.
Para Geninha fica o legado, que inspirou milhares de alunos e professores. "A macrobiótica ainda é vista como uma alimentação para doentes, mas é muito saborosa e pode melhorar muito a saúde. Mudou muito a minha vida", diz a aluna Sara Marques dos Santos. Paula Azevedo, professora no instituto onde também foi aluna, lembra que "há 20 anos a macrobiótica era vista como algo estranho, mas o instituto tornou-a mais acessível a todos, abriu o conceito e tornou-o mais "cool"".
Francisco Varatojo
Pai da macrobiótica em Portugal aprendeu em Boston
Francisco Varatojo, pai da macrobiótica em Portugal, começou a estudar esta disciplina em 1977, no Instituto Kushi de Boston, com Aveline e Michio Kushi, responsáveis por levarem os princípios da macrobiótica moderna aos Estados Unidos. Em 1985, fundou o Instituto Kushi de Portugal, uma das delegações de Boston, que mais tarde passou a chamar-se Instituto Macrobiótico. Tornou-se uma das instituições mais conceituadas a nível internacional nesta área.
História
Prédio no Chiado
O Instituto Macrobiótico funciona num prédio no Chiado, mas antes esteve noutros dois sítios. Abriu em 1985 com o objetivo de dar uma vertente formativa inexistente em Portugal. Hoje há vários cursos.
Festival Zimp
Em 2012, o instituto organizou o Festival Zimp, festival de saúde natural, que se repetiu anualmente até 2019. Foi apadrinhado por várias figuras públicas, como Nuno Markl, Cláudia Vieira e Laurinda Alves.