Com 894 camas afetas ao SNS, o setor privado denuncia que 90% dos profissionais não foram vacinados. Os administradores criticam a falta de planeamento e articulação.
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Os hospitais privados têm "894 camas afetas ao SNS, com 230 doentes covid, dos quais 51 em Cuidados Intensivos (UCI)", revelou, na quarta-feira, no Parlamento, o presidente da Associação de Hospitalização Privada. Óscar Gaspar disse haver "ainda alguma disponibilidade", mas deixou o recado: "Se não afetamos mais ao SNS, é porque há portugueses que estão a ser tratados nos privados aos seus diversos problemas".
Respondeu, assim, ao deputado bloquista José Soeiro, que afirmou existirem "12 vezes mais camas no privado do que as disponibilizadas". Lembrando que, em abril, "foram desmobilizados" pela tutela, Óscar Gaspar denunciou que "90% dos profissionais de saúde [do privado] não foram ainda sido vacinados".
Quantificando: foram imunizados 1700 profissionais, dos quais 570 são médicos. "O plano de vacinação não distingue se é do público ou é do privado. Um médico é um médico".
Aquele responsável criticou ainda o facto de o plano outono/inverno da Direção-Geral da Saúde apenas "visar o SNS, não prevendo a colaboração privada". Desafiando a tutela a revelar o custo com um doente covid.
Inquéritos em atraso
A secundá-lo, o líder dos administradores hospitalares: "O recurso ao privado depende também de planificação. Os meios não são ociosos. É inimaginável de um dia para o outro contratar de forma avulsa", disse Alexandre Lourenço. A ausência de um plano e de uma estratégia foi, aliás, transversal a todos os inquiridos naquela comissão para acompanhamento da resposta à pandemia.
Com questões deixadas à tutela: "Alguém fez a soma dos recursos máximos ou deu indicação para que se aumentasse capacidade? Quantas camas covid e não covid temos? Quantas UCI ainda por construir por atrasos na contratação pública?", indagou Alexandre Lourenço. Avisando que se os "hospitais não participarem no planeamento da resposta, apenas por mera sorte podem acertar".
O mesmo na Saúde Pública, na voz de Ricardo Mexia, presidente daquela associação: "O modelo de gestão e liderança não é claro. Onde está a liderança? Que planeamento foi feito?". A "correr atrás do prejuízo", Ricardo Mexia revelou serem já 40 mil os inquéritos epidemiológicos em atraso. E, sem isso, não se travam cadeias de transmissão.
Nas USF, disse Diogo Urjais, a certeza de que para "priorizar a vacinação, alguma atividade vai ter que deixar de ser feita". E perguntas, muitas: "Como vão ser convocados os utentes? São agendados por quem e para onde? E os que não têm médico de família, quem valida a declaração?".
À lupa
Máximos atingidos
Todos os planos de contingência elaborados pelos hospitais em setembro foram ultrapassados. Com unidades a triplicar a taxa de esforço, explicou Alexandre Lourenço. Para os administradores hospitalares, as medidas de combate deviam estar em linha com a capacidade de resposta. Ou seja, acentuá-las conforme o esforço dos hospitais. Mas antes de chegar aos 100% e 200%.
Saúde Pública
Ricardo Mexia foi claro: "não há médicos de Saúde Pública disponíveis, houve um enorme desinvestimento". Quanto aos rastreadores, "a mobilização não acompanhou a evolução epidemiológica".
Listagens para vacina
Nos Cuidados de Saúde Primários, conforme o JN noticiou esta semana, é o desnorte quanto à campanha de vacinação contra a covid. "As listagens são enviadas hoje para validar até às 14 horas de amanhã. São centenas de utentes por unidades. Já podia ter sido feito. É tudo em cima do joelho", frisou Diogo Urjais.
ADSE não cobre
"A ADSE não contempla que os beneficiários possam aceder ao privado para efeito covid", revelou Óscar Gaspar.