Há menos disponibilidade em Lisboa e Vale do Tejo e ministra não descarta recurso à requisição civil. Pressão no internamento a subir. A cada 10 mil novos casos, mais 150 doentes vão precisar de intensivos.
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Os hospitais privados têm cerca de 800 camas disponíveis para receber doentes não-covid encaminhados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) e outras 80 para doentes infetados pelo SARS-CoV2. Das 800 camas, cem foram abertas no passado fim de semana, do Norte ao Sul do país, para dar resposta ao aumento da pressão sobre o internamento hospitalar. As contas foram feitas pela Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) no dia em que a ministra da Saúde disse que tem havido dificuldade em chegar a acordos com unidades privadas, sobretudo em Lisboa e Vale do Tejo. Marta Temido não descarta o recurso à requisição civil dos privados, mas António Costa fala apenas em "negociações" entre Estado e privados.
Segundo a APHP, das cerca de 800 camas para doentes não-covid mais de cem foram disponibilizadas por unidades de menor dimensão, de Viana do Castelo a Loulé no último fim de semana, após um pedido da tutela. Para tratar doentes covid-19, os privados dispõem de 80 camas, por onde já passaram mais de 500 doentes desde novembro, mês em que se iniciaram as transferências do SNS. Afinal, são tantos quantos os que já foram tratados nos hospitais militares desde março. Números que rebatem as críticas de vários candidatos presidenciais, da Esquerda à Direita, sobre a falta de envolvimento do setor privado na luta contra a pandemia. Ainda ontem, adiantou APHP, foi possível aumentar o número de camas covid na região de Lisboa.
Só os hospitais CUF, o maior prestador privado do país, receberam, desde novembro, 70 doentes covid e 14 não-covid do SNS. A maioria das transferências ocorreu entre hospitais do Norte e o Hospital CUF Porto, apurou o JN junto de fonte daquele grupo de saúde.
Ontem, a ministra disse que há 19 convenções no Norte com os setores privado e social para garantir 150 camas para doentes covid e outras tantas para doentes não-covid e reconheceu que em Lisboa a capacidade é menor, com cerca de 100 camas e muito espalhadas por várias instituições, o que "dificulta a gestão dos processos dos doentes". Marta Temido revelou que estão a ser equacionadas "outras soluções" para garantir que todo o sistema de saúde está à disposição".
Defesa tem capacidade
Questionada sobre a requisição civil, lembrou que "está prevista no decreto presidencial que enquadra o estado de emergência" e sublinhou: "não hesitaremos em lançar mão desse mecanismo, quando não conseguirmos, por acordo, nunca dispensando a justa compensação prevista nos termos da lei da requisição civil, ultrapassar as dificuldades". Declarações prestadas durante uma visita ao polo de Lisboa do Hospital das Forças Armadas, onde abriram 32 novas camas para doentes covid e não-covid dos hospitais públicos. Na sessão, o ministro João Gomes Cravinho garantiu que ainda há "muita capacidade" para ajudar o SNS, em termos dos espaços de retaguarda, mas que "até agora não tem sido necessário".
Ontem, o país registou um máximo de mortos por covid-19 - 122 em 24 horas - e os internamentos voltaram a disparar (mais 213), aumentando a pressão sobre os hospitais. Em Lisboa e Vale do Tejo, que durante o fim de semana transferiu cerca de duas dezenas de doentes para unidades do Grande Porto, o Hospital de S. José elevou o plano de contingência para o nível máximo.
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Enorme sobrecarga
"Por cada dia que temos 10 mil novos casos, teremos, uma semana depois, cerca de 150 novas admissões em medicina intensiva. A próxima semana e a semana a seguir vão ser de uma sobrecarga enorme", avisou José Artur Paiva. O diretor do serviço de Medicina Intensiva do S. João defende uma articulação reforçada entre SNS e privado.
500 doentes no HFAR
No polo de Lisboa do Hospital das Forças Armadas (HFAR), abriram ontem 32 novas camas de internamento e de cuidados intensivos para doentes com covid-19 provenientes do Serviço Nacional de Saúde. Tanto em Lisboa como no Porto, o HFAR já recebeu e tratou cerca de 500 doentes com covid-19 desde março, disse a ministra.
Pavilhão vira hospital
No Algarve, o parque de feiras e exposições Portimão Arena foi transformado num hospital de campanha para acolher doentes covid-19. Com 100 camas, a abertura desta unidade faz parte da fase quatro do plano de contingência do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, que se encontra no limite da capacidade de internamento.