São já duas as licenciaturas de Matemática a figurarem no top 10 de cursos com médias de acesso ao Superior mais elevadas. A alta taxa de empregabilidade explica o fenómeno, num mercado carente de oferta.
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Na era do tratamento e análise de dados e da inteligência artificial, a procura por estes diplomados não pára de aumentar. Que continuam a ser poucos, consequência das escassas vagas.
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Num total de 14 cursos que abriram lugares, as notas subiram em 11, numa média global de 147,6 pontos. Nesta contabilidade não entra o curso da Universidade da Beira Interior, que abriu este ano, não permitindo comparações.
Se o curso de Matemática Aplicada e Computação do Instituto Superior Técnico (IST) já integrava o top10 no ano passado, nesta 1.ª fase de acesso juntou-se-lhe o de Matemática Aplicada à Economia e à Gestão, do ISEG, da Universidade de Lisboa, com uma média superior ao do IST: 184 pontos contra 183,8. Sendo o universo de colocados muito restrito face ao elevado número de candidatos. No total, foram abertas 538 vagas, sobrando 40 (Beira Interior, Algarve, Évora e Madeira).
Emprego garantido
"No IST, quando chegam os alunos de Matemática os empregadores ficam muito entusiasmados", afirma ao JN o seu presidente. Um "fenómeno" em ascensão relacionado com o "big data"- tratamento e análise de dados em grande volume - e a inteligência artificial, explica Arlindo Oliveira.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática fala num "aumento dramático da procura de matemáticos por parte da indústria". Mas, afinal, o que os distingue? "Capacidade de análise objetiva e abstrata" e "adaptação fácil a outras áreas fundamentais para muitas empresas", responde Filipe Oliveira. Sublinhando tratar-se de uma "tendência que só aumentará no futuro".
Cursos de elite
"Cursos de elite" que "permitem às instituições escolher os melhores alunos", alerta ao JN Alberto Amaral. Que reflete sobre o bem posicional, isto é, "um bem de posição social que confere aos alunos uma vantagem relativa". E quanto mais restrito for o acesso, "maior esse valor posicional" e maiores as "desigualdades de acesso", diz o presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Superior.
E como toda a elite tem um custo, "os bens posicionais tendem a ser monopolizados pelos grupos sociais em melhor posição para competir". Os cursos que têm vindo a destronar a Medicina no top 10 têm "um carácter marcadamente elitista", conclui.
Outros dados
Média de 19,3 valores
São médias altas, já aqui o escrevemos, mas conseguem superar os recordes da 1.ª fase. Por exemplo, no concurso do ano passado, na 2.ª fase de acesso ao curso de Matemática Aplicada à Economia e à Gestão o último, e único colocado, chegou aos 19,3 valores.
Vagas vs. candidatos
No ano passado, o curso do IST tinha 33 vagas, na 1.ª fase, para 263 candidatos. No ISEG eram 297 para 38 lugares. Na Universidade do Porto, o curso de Matemática abriu 56 vagas para 364 candidatos. Aqui, a média do último colocado foi de 15,93 valores.
Dia de matrículas
Os 44 500 novos estudantes que entraram na 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso podem começar a matricular-se nas suas instituições de ensino a partir desta segunda-feira. Mais informações disponíveis em www.dges.gov.pt.
Arranca 2.ª fase
Também a partir de hoje e até ao dia 20 de setembro decorrem as candidaturas à 2.ª fase de acesso. Recorde-se que sobraram para esta fase 6734 vagas, menos 7,6% do que no concurso do ano passado.
Análise
Depois de uma quebra de 43% nas matrículas, Espanha bate recordes
O fenómeno, claro está, não é exclusivo de Portugal. Na vizinha Espanha, depois de uma quebra de 43%, entre 2000 e 2005, nas matrículas nos cursos de Matemática, assiste-se hoje ao auge destes cursos. Lembra o jornal "El País" que, há dez anos, bastava uma média de 5 valores para entrar num curso de Matemática quando, no ano passado, foi já de 12,68. Refira-se que, em Espanha, a escala é de 0 a 14 valores (em Portugal, é de 0 a 20). Se antes o futuro era a docência, hoje, em plena era do "big data", há um sem fim de saídas profissionais para os matemáticos.