Os professores defendem um trabalho contínuo, mas todos os anos, invariavelmente, o cenário repete-se: com o aproximar das datas dos exames nacionais, os alunos correm à procura de explicações particulares.
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Só na plataforma online Superprof - uma comunidade internacional de explicadores, que vende aulas, em Portugal, a 218 515 alunos -, nos últimos três meses, houve um crescimento de 49% do número de sessões. E os centros de explicações convencionais também sentiram um aumento da procura. Na sexta-feira, houve o primeiro exame nacional do 9.º ano, a Matemática. Hoje, é a vez dos alunos do Secundário começarem as provas, com Português, do 12.º ano.
A pandemia veio alterar a relação dos consumidores com a Internet e na área do ensino não foi exceção. Presente em Portugal desde 2016, a Superprof, antes da covid-19, tinha 70 283 alunos. “Neste momento, temos 218 515 alunos ativos. Houve um aumento de 210,80%”, refere ao JN Marta Valadas, manager da plataforma no nosso país. No total, dão aulas através do site 53 539 professores.
Com preços à hora estipulados por cada professor - e que tanto rondam os 10 euros como os 20, ou mais, dependendo da disciplina e do grau de ensino -, na plataforma online os alunos procuram e escolhem o explicador, podendo fazer a busca por localização geográfica. Depois, as aulas acontecem em modo online ou presencial. Mas “têm pedido mais aulas presenciais”, conta Marta Valadas.
Na Explicolândia, uma marca que conta com seis centros de estudos, mais uma unidade dedicada apenas ao ensino ao domicílio e outra às explicações online, em cerca de “400 alunos inscritos, cerca de 15% estão no modo online”, revela José Carlos Ramos, diretor de franchising, para quem o ensino à distância “veio para ficar”.
Mais lacunas
Matemática, Português e Biologia e Geologia, disciplinas de exame do 12.º e do 11.º ano, são aquelas para as quais os alunos mais procuram ajuda. Junta-se, em alguns casos, a Física e Química. É assim no Objetivo 100%, um centro de estudos de Aveiro, onde, “todos os anos, aparecem alunos a procurar explicações à última hora”, recorda Vera Marques, proprietária do espaço. Já no caso da Explicolândia, segundo José Carlos Ramos, “o período de maior procura na preparação dos exames nacionais de Secundário foi de janeiro a abril” e, “de maio a junho, foi residual”.
No Objetivo 100% - assim como noutros -, este ano, houve uma novidade: um aumento dos alunos de 9.º ano que necessitaram de explicações, uma vez que voltaram os exames nacionais a esse ano de escolaridade. De resto, em relação ao Ensino Secundário, a procura, nos últimos meses, foi semelhante à que costuma existir. “O que se nota, devido à pandemia, é que os alunos não estão habituados a trabalhar tanto. E há mais lacunas ao nível da leitura, da escrita, do cálculo e mesmo do raciocínio”, sublinha Vera Marques.
Em Vila Nova de Gaia, no Explicagaia, Elídio Bastos, proprietário do espaço e explicador de Física e Química e de Matemática, também aponta “um défice maior ao nível dos conhecimentos”. “Muita matéria, nas escolas, foi dada a despachar”, frisa. No seu centro de explicações, este ano, “muitos alunos apareceram mais tarde para preparação de exame”.
“Não sei se tem alguma coisa a ver com a conjuntura económica. Temos alunos que fizeram o percurso connosco desde o início do ano, mas outros só nos procuraram há uns dois ou três meses”, diz Elídio Bastos.