Pequenos negócios e famílias lideraram corrida a geradores no dia do apagão e nas semanas seguintes. Muitos recorreram também a reparações dos equipamentos.
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Um mês após o apagão de 28 de abril, que afetou Portugal e Espanha, a procura por soluções alternativas ao fornecimento de energia elétrica, como geradores e fogões portáteis a gás, mantém-se em alta. A falha elétrica, que deixou o país às escuras durante mais de dez horas, revelou vulnerabilidades no sistema e levou muitos a preparar-se para futuras emergências.
Os fabricantes e retalhistas que responderam ao JN dão conta de picos na procura no próprio dia do apagão e nos seguintes, que se manteve acima do normal durante várias semanas. Face à vulnerabilidade da rede elétrica, acreditam que o investimento em geradores continuará a crescer para evitar riscos e danos em situações de emergência como a que se viveu recentemente.
A Grupel, uma das maiores fabricantes de geradores do país, com sede em Vagos, observou “um aumento drástico da procura da gama doméstica e de pequena potência”, para particulares, pequenos comerciantes, restaurantes, pequenas infraestruturas, bombeiros e proteção civil. O produtor aveirense estima que as vendas cresceram 15% em relação ao mesmo período de anos anteriores.
Ainda que seja cedo para comparar com um ano normal, certo é que, desde o apagão, também a Turbomar Energia, empresa portuguesa sediada em Lisboa, verificou um aumento significativo, sobretudo por serviços de assistência técnica para reparações e modernizações.
No retalho, a Worten relatou um “aumento exponencial” nas vendas de geradores e fogões portáteis, entre vários outros produtos de primeira necessidade para emergências energéticas, no último mês. Aliás, foram registados picos no site logo após o restabelecimento da energia e das comunicações, e no dia seguinte, quer nas lojas físicas quer ‘online’, revelou. A Decathlon também verificou uma procura generalizada de equipamentos da gama campismo, e destaca os fogareiros como um dos artigos mais procurados.
Empresas reforçam meios
Os geradores revelaram-se essenciais no setor alimentar: 80% das lojas conseguiram manter-se abertas graças a investimentos prévios nesses equipamentos, adiantou, ao JN, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED). Para Gonçalo Lobo Xavier, este número revela que “o setor mostrou mais uma vez uma resiliência enorme” numa crise, lembrando a capacidade para que não o abastecimento necessário durante a pandemia e greves de transporte de mercadorias.
O cenário foi distinto no retalho especializado, onde muitas lojas de eletrónica de consumo, livrarias, cosmética e moda foram forçadas a encerrar, por falta de geradores ou por decisão dos centros comerciais, sublinhou.
Apesar do esforço para minimizar os danos, o responsável da APED dá conta de perdas “significativas”, nomeadamente em armazéns, que ascendem a vários milhares de euros "que dificilmente serão recuperados”. Nas contas dos danos acresce-se ainda "um investimento muito grande” na modernização ou aquisição de novos geradores, que muitas das empresas estão a levar a cabo para prevenir futuras interrupções, acrescentou.
Para o responsável, a falha elétrica em abril demonstrou também que a população deve ser "mais sensata" e "menos alarmista" na sua reação a crises, um comportamento que poderia ter evitado compras excessivas e perdas desnecessárias.