Ministério manda averiguar denúncias de que há docentes a quotizar-se para financiar adesão de assistentes operacionais. Sindicato demarca-se, mas fala em "luta coletiva" para "benefício de todos". Promete marcha histórica amanhã.
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Há escolas onde os professores estão a angariar verbas para ajudar a prolongar os dias da greve. Em alguns casos, esse dinheiro estará a servir para compensar o corte do salário dos assistentes operacionais que adiram à paralisação. O Ministério da Educação confirma estar a analisar denúncias e garante que irá extrair consequências legais a confirmarem-se estes "procedimentos ilegais".
"O Ministério da Educação está a analisar denúncias que chegaram durante o dia de hoje [ontem], para que, caso se verifique a ilegalidade da recolha e aceitação de dinheiro neste contexto, se extraiam as devidas consequências legais e se atue em conformidade", revelou o gabinete de João Costa em resposta ao JN.
A possibilidade de professores recolherem verbas para custear a adesão dos assistentes operacionais - decisiva para fechar as escolas - tem inflamado as redes sociais e foi confirmada ao JN por vários professores.
O JN teve acesso a um documento, exposto numa sala de professores de uma escola de Loures, onde se lê que "cada assistente operacional deverá receber 10 euros por cada meio dia de greve". E que "cada docente é convidado a participar com um mínimo de 15 euros por mês". Trata-se de uma decisão tomada numa reunião sindical, a 4 de janeiro, que tem o logótipo do S.TO.P., e que previa a "greve dos assistentes operacionais custeada a partir de um fundo de greve realizado pelos docentes" a 11 e 19 de janeiro.
"estimulamos os fundos"
Confrontado, André Pestana, presidente do S.TO.P., um dos sindicatos em greve, garantiu desconhecer a ação, alegando que "não pode controlar o que se passa em todas as escolas".
"Recuso que seja quem for use esta greve para usar um setor em benefício de outro. Esta é uma luta coletiva, estimulamos os fundos de greve, sem dúvida, mas para benefício de todos", afirma.
A greve de professores marcada pelo S.TO.P. dura desde dezembro. No início de janeiro, o pré-aviso foi alargado a todos os não docentes, entrando também em vigor a greve do SIPE ao primeiro tempo do horário de cada professor.
Desde então, têm aumentado de dia para dia os fechos de escolas e os protestos de professores (e de pais). Ontem, terão fechado "centenas" de escolas de norte a sul do país, garante André Pestana.
A imprevisibilidade dos efeitos da greve, com muitas escolas a não fecharem mas a funcionarem com um horário intermitente, tem deixado milhares de alunos sem aulas e os pais a desesperar com faltas injustificadas ao trabalho (ler ao lado). A Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares enviou anteontem aos diretores orientações para que garantam "em todos os momentos a abertura dos estabelecimentos".
André Pestana assume ao JN que não só aprova, como "estimula" a recolha de verbas pelos professores. Mas demarca-se da sua gestão, garantindo desconhecer pagamentos a funcionários.
ação de "solidariedade"
O líder do S.TO.P. assume que concorda e "estimula" a criação do que apelida de "fundos de greve" (diferentes dos que a lei prevê, ler caixa) por considerar ser uma estratégia de "solidariedade" entre os profissionais, "usada pelas grandes lutas sindicais desde o século XIX".
André Pestana queixa-se de ser alvo de "calúnias". Frisa que o sindicato "mais jovem" teve "mais de 25 mil pessoas" na manifestação de dezembro em Lisboa. E para amanhã promete fazer uma "marcha histórica" a recordar a dimensão dos protestos de 2008 e 2009.