Ana Simões, professora de História em Ílhavo, é docente há 22 anos mas só vinculou este ano. Critica o "excesso de burocracia" e o "sistema de quotas" no ensino, não considerando "razoável" que os professores que andam "com a casa às costas" não tenham apoios do Estado. Estas são apenas algumas das "injustiças" que a fizeram sair à rua em protesto, na manhã desta terça-feira, em Aveiro. Juntou-se a centenas de colegas de profissão na Praça Joaquim Melo Freitas, para o segundo dia de greve.
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Os professores pedem "respeito", algo que Ana Simões considera que "tem faltado por parte dos órgãos políticos" e que se "reflete" em sala de aula.
Tal como ela, também Aristides Rodrigues, professor de EVT em Águeda, demorou mais de 20 anos a ficar efetivo. Dá aulas há 30 anos e pede que o ministro da Educação, João Costa, "ouça" os professores.
Já Laura Pereira, professora de matemática e ciências do 2º ciclo numa escola em Aveiro, critica o sistema de quotas e reivindica que o tempo de serviço seja "todo contado" para efeitos de progressão na carreira. É docente há 34 anos mas, como foi "penalizada" por diversas vezes, passou agora para o 7.º escalão e, se não houver recuperação do tempo, não chegará ao topo da carreira. "É uma injustiça muito grande, é um desencanto na profissão, é um trabalhar sem condições, sem sermos respeitados", desabafa, explicando que há muitos professores em "burnout"
As escolas funcionam porque os professores são "resilientes e pensamos nos alunos e pais", pois ninguém se apercebe que estamos em "burnout", um stress excessivo devido a sobrecarga ou excesso de trabalho, denuncia.
FENPROF à espera de documentos
Mário Nogueira, da FENPROF, a Federação Nacional dos Professores, diz que a adesão em Aveiro "não andará longe aos 90%", tal como aconteceu ontem em Lisboa, e, ao final da manhã, estavam contabilizados pelo menos 14 agrupamentos encerrados só no norte do distrito.
Cada vez há menos professores qualificados nas escolas, alerta o dirigente sindical. "Este ano temos um número de alunos sem professores como se calhar nunca tivemos". E só não é um número ainda maior por causa dos "diplomados não profissionalizados" que estão a dar aulas.
Segundo Mário Nogueira, "no ano passado aposentaram-se 2401 professores, um recorde desde 2013, e entraram nos cursos de formação de professores menos de 1200. Só agora em janeiro e fevereiro aposentam-se 500 professores". "Um dia destes não há professores profissionalizados. O que é que se quer da educação?", questiona.
Dia 20, os sindicatos afetos à Fenprof reúnem-se com o ministro da Educação, mas Mário Nogueira lamenta que o ministério "não tenha enviado o documento que vai estar em discussão".
A greve convocada por várias estruturas sindicais, nomeadamente ASPL, FENPROF, PRÓ-ORDEM, SEPLEU, SINAPE, SINDEP, SIPE e SPLIU, arrancou em Lisboa e pretende percorrer os 18 distritos de Portugal continental até 8 de fevereiro. Para dia 11 de fevereiro está prevista uma grande manifestação nacional em Lisboa.