Professores em greve: "A escola pública, a ser tratada desta forma, vai ser um caos"
Os professores iniciaram, esta segunda-feira, uma semana de greve e prometem não baixar os braços na luta pelos seus direitos e pela escola pública. No Grande Porto, vários docentes concentraram-se à porta da Escola Básica e Secundária do Cerco. Entre os pais, há quem tema os impactos de mais um ano letivo com greves.
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"Estou preocupado. Houve o covid, os alunos tiveram aulas em casa e agora isto. É um mau começo. Como é que a minha filha vai ter uns alicerces bons para ir para o secundário e, depois, para a faculdade?", questiona-se Hélder Meira, pai de uma aluna que iniciou, esta segunda-feira, o quinto ano de escolaridade na Escola Básica e Secundária do Cerco.
Fernanda Alves também não esconde algum receio. Até porque a filha tem problemas de aprendizagem. Mas a preocupação é amenizada pelo facto de, no ano passado, as greves não terem impedido a realização da maioria das aulas no Cerco. "No ano passado, a minha filha só tinha furos de vez em quando. Temos de aguardar para ver como vai correr o ano", disse Fernanda Alves ao JN, sublinhando ainda compreender a luta dos professores.
À porta da escola, esta segunda-feira de manhã, concentraram-se docentes de vários estabelecimentos de ensino do Grande Porto. José Silva foi um deles. É docente de Geografia e tem 30 anos de carreira. "É mais um ano de luta porque, até agora, houve uma mão cheia de nada para os professores. Deram umas migalhinhas", disse o docente.
José Silva lamenta "a falta de equidade muito grande" entre os professores e a falta de atratividade que a escola pública oferece aos jovens" que querem abraçar a carreira. Recorda que a "falta de professores tremenda" é um problema anunciado há muitos anos e critica o ministro da Educação que, diz, "não tem feito nada para contrariar" a situação.
"Com a imagem constantemente denegrida e falaciosa que o ministro da Educação insiste em passar para a opinião pública, cada vez menos jovens querem ser professores", lamentou José Silva, recordando que "os alicerces de um país são a educação".
"Sem a Educação, não há outras profissões. E não é diminuindo as exigências para se ser professor [que vamos resolver o problema da falta de profissionais]. A escola pública, a ser tratada desta forma, vai ser um caos", frisou o docente da Escola António Nobre, no Porto, garantindo que, "enquanto tiver forças", não vai parar de lutar.
"Acredito que vamos conseguir pôr um bocadinho de bom senso nos governantes deste país para pensarem que a educação é base de qualquer país. Os professores merecem ser respeitado e tratados com dignidade. Isso não está a acontecer", referiu.
Professores exigem recuperar os seis anos de congelamento da carreira
Susana Botelho, professora do ensino primário, segura um cartaz com a cara do ministro da Educação. A docente explica: "O ministro tem atitudes muito falaciosas, que não correspondem à verdade e que acabam por denegrir a imagem de todas as pessoas que, com algum esforço, colocam uma escola a funcionar", criticou a professora que também promete não abandonar a luta em defesa da escola pública e da carreira docente.
Sónia Alvarenga leciona há quase um quarto de século, mas só há 15 conseguiu efetivar. Nesse ano, recorda, ficou colocada no Alentejo e teve de se mudar com o filho de apenas um ano de idade. "Dividi casa com uma colega de português. Pelo esforço que fiz, não abdico um dia dos seis anos, seis meses e 23 dias de tempo de serviço congelado. Não há acelerador [de carreira] que justifique a não contagem do esforço que tive", afirmou a professora de matemática, admitindo concordar caso haja um acordo faseado para a recuperação do tempo de serviço.
"Podem aplicar o acelerador a todos os escalões, de maneira que os professores recuperem os seis anos. Não é nada de impossível", sugeriu.