Os professores portugueses têm salários mais elevados do que a média dos trabalhadores com formação superior, mas perderam poder de compra na última década, segundo um relatório da OCDE.
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"Em Portugal, os salários dos professores do ensino primário (equivalente aos 1.º e 2.º ciclos) são 28% superiores aos dos trabalhadores com formação superior", refere o relatório "Education at a Glance 2025", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
A edição mais recente do relatório anual, com estatísticas sobre os sistemas educativos dos 38 Estados-membros, mostra que Portugal é um dos poucos países onde os professores ganham, em média, mais do que outros diplomados do Ensino Superior.
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Em situação idêntica estão apenas Peru, Costa Rica e Roménia, mas o relatório aponta uma possível explicação: "A percentagem de professores com mais de 50 anos aumentou significativamente em Portugal (de 31% em 2013 para 56% em 2023) e, consequentemente, uma grande parte dos professores pode estar mais próxima do topo da carreira".
De acordo com os dados da OCDE, em 2024, um professor (entre os 25 e 64 anos) ganhava cerca de 50.083 euros anuais, num cenário em que o salário estatutário de um docente no topo da carreira rondava os 74.378 euros, e cerca de 35.178 euros no início da carreira.
A análise feita pela OCDE mostra, no entanto, que apesar da aparente vantagem em relação aos restantes trabalhadores com formação superior, os professores perderam poder de compra na última década e a carreira tornou-se, em particular, menos atrativa para aqueles que estão a começar.
No ano passado, a que se referem os dados mais recentes, o salário real de um professor com 15 anos de experiência tinha caído 4% em relação a 2015, mas a diferença é maior entre os docentes no início da carreira, cujo poder de compra diminuiu 10% em nove anos.
Por outro lado, num contexto em que o salário médio de um professor aumentou 14,6% no mesmo período na média dos países da OCDE, em Portugal diminuiu 1,8%.
No relatório, a OCDE volta a chamar à atenção para a crescente falta de professores, um problema comum na maioria dos estados-membros e ao qual Portugal não é exceção.
Entre 2018 e 2022, a percentagem de diretores escolares que consideram que o ensino é prejudicado pela falta de docentes aumentou mais de 30 pontos percentuais e o relatório alerta que o envelhecimento da classe docente poderá agravar as carências num futuro próximo.
Em Portugal, as respostas ao problema têm passado também por facilitar a contratação de professores com habilitação própria, ou seja, docentes que têm formação na área científica das disciplinas, mas não têm habilitação profissional, conferida por mestrados em ensino.
Em resultado, entre os anos letivos 2014/2015 e 2022/2023, a percentagem de docentes sem habilitação profissional passou de 1,6% para 6,5%.
Há um ano, a OCDE já recomendava a valorização da carreira e dos salários dos professores para fazer face à falta de profissionais. Volta agora a insistir: "Salários competitivos podem tornar a profissão docente mais atrativa".