Os profissionais de saúde têm tido mais preocupações com a higienização das suas mãos devido à pandemia, registando um aumento de 9,2% quando comparado com 2019. Esta é uma das conclusões do relatório conjunto da Direção-Geral de Saúde (DGS) e do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), divulgado hoje no Dia Mundial da Higiene das Mãos (5 de maio).
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Os dados revelados pelo relatório mostram que a adesão dos profissionais de saúde à higienização das mãos cresceu de 75,7% em 2019 para 82,7% em 2020.
Entre as principais conclusões deste relatório estão o aumento das taxas globais de adesão, entre 2019 e 2020, das unidades de saúde que aderem a esse programa da DGS. Nas unidades de cuidados continuados integrados (UCCI) e agrupamentos de centros de saúde (ACES) "tem sido mais difícil realizar a formação obrigatória para os observadores" que monitorizam estas práticas; e a grande mobilidade de profissionais responsáveis por este projeto nas UCCI, ACES e hospitais privados dificulta uma consolidação das competências para observar a higiene das mãos/precauções básicas do controlo da infeção (HM/PBCI), alertou Maria Goreti Silva num webinar sobre o tema.
Enfermeira e membro da direção do PPCIRA na DGS, refere que muitos destes resultados foram influenciados pela pandemia. Indica que os "hospitais de maior dimensão passaram a ser unidades de referência para o tratamento da covid 19, as reorganizações frequentes na área e um aumento substancial de cumprimento da higiene das mãos" condicionou o relatório, levando a que parte dos resultados não fossem divulgados.
Indica que 146 unidades de saúde aderiram a estas auditorias e que, em 2021, participaram mais 29 unidades. Uma tendência que contrasta com o ano 2020, em que o relatório do PPCIRA refere que "houve um decréscimo de unidades participantes em quatro dos programas. No que diz respeito às precauções básicas do controlo da infeção (PBCI), nove dos dez componentes mantiveram um índice global de qualidade, com uma taxa de cumprimento acima dos 90,0% em 2021.
No entanto, Maria Goreti Silva revela que em "33,5% das oportunidades de observação em que a higiene das mãos não foi cumprida" deveu-se ao uso de luvas. Ou seja, "quando profissionais de saúde já têm as luvas calçadas ou quando os profissionais de saúde calçam as luvas sem fazer a higiene das mãos".
Aumenta resistência a bactéria
Outro dado que o documento dá foco é a resistência a antimicrobianos. Apesar da resistência a antimicrobianos apresentar em Portugal, desde 2013, uma tendência globalmente decrescente em termos dos microrganismos que são habitualmente monitorizados, o relatório aponta particular preocupação para a evolução da taxa de resistência da superbactéria Klebsiella pneumoniae aos carbapenemes, que tem sido marcadamente crescente, aumentando de 2,0% para 11,6% entre 2013 e 2020 (é uma bactéria que pode causar infeções graves como meningite ou pneumonia).
Segundo o documento, atualmente Portugal tem a 7ª taxa mais elevada entre os 29 países europeus participantes na rede de monotorização EARS-Net (Rede Europeia de Vigilância da Resistência Antimicrobiana, um banco de dados central e abrangente para a União Europeia).
De acordo com o documento, em 2020, verificou-se um decréscimo de consumo de 23%, em relação a 2019, sendo este decréscimo mais marcado do que na média europeia. Em 2021, com os dados dos primeiros 11 meses já apurados e comparados com período homólogo de 2020, verifica-se um aumento do consumo total de antibióticos em ambulatório de 0,9%.