Procura dispara 79% numa semana, quando país regista 11 mil casos diários de covid. Especialistas consideram prematuro fim da gratuitidade de testes: positividade é a mais elevada de sempre.
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Numa altura em que o país regista uma média de 11 mil casos diários de infeção por SARS-CoV-2, a linha SNS24 tem estado sob pressão. Na passada terça-feira, foram atendidas mais de 34 mil chamadas, num acréscimo de 79% face ao mesmo dia da semana passada. Situação que obrigou a reforçar as escalas. A que não é alheio o aumento da incidência de covid, mas também, segundo os especialistas ouvidos pelo JN, o fim da gratuitidade de testes de antigénio nas farmácias, medida cujo fim consideram prematuro.
Questionado pelo JN sobre o facto de, ontem, a linha aconselhar os utentes a ligarem mais tarde, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde garantiram que a linha "não está congestionada, mas tem vindo a registar um aumento de procura nos últimos dias". Anteontem, "atendeu mais de 34 mil chamadas quando na terça-feira passada atendeu cerca de 19 mil". Acréscimo que está a ser "compensado pelo reforço no número de profissionais nas escalas diárias e utilização de meios digitais, como a triagem digital, que ontem [terça-feira] permitiu atender 5000 pessoas". Dados da taxa de atendimento e do tempo médio de espera não foram facultados.
Casos sobem 35% numa semana
Pressão que coincide com a subida do número de novos casos de covid. "A incidência a 14 dias por 100 mil habitantes está nos 1311, é elevadíssima", revela o matemático Óscar Felgueiras. Tendência confirmada pelo registo, na terça-feira, de 14 918 infeções, o valor mais elevado desde 7 de março. Nos últimos sete dias registou-se uma média diária de 11 143 novos casos, num acréscimo de 35% face aos sete dias anteriores (ver info). Num "crescimento transversal a todas as faixas etárias", diz o professor da Universidade do Porto.
Tendência idêntica segue o R. De acordo com a modelação feita pelo matemático Carlos Antunes, aquele indicador está agora nos 1,12. Continuando os óbitos estabilizados, nos 24 por um milhão de habitantes. Acresce, frisa Óscar Felgueiras, que a taxa de positividade está nos 24,1%, "o valor mais alto desde o início da pandemia". Temos "uma positividade muito grande, o que significa que não estamos a testar muita gente que está infetada". O académico do Porto que tem apoiado o Governo no combate à pandemia alerta: "Estamos a perder, obviamente, muita informação. É claríssimo".
Por sua vez, Carlos Antunes explica a elevada taxa de positividade com o fim da testagem em massa. "Não se consegue estancar o aumento da positividade, continua a crescer, o que quer dizer que o aumento de casos é superior ao ritmo do aumento dos testes".
Quanto à gravidade da doença, todas as regiões, exceto o Norte, registam ou uma descida ou uma estabilização, tanto em enfermarias como em Cuidados Intensivos. Contudo, no Norte, revela Carlos Antunes, "há um aumento contínuo em enfermaria", pressionada pelos maiores de 70. "Desde meados de março, quando tinham 230 camas, aumentou 50%, para as 350", adianta o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa. Região que, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, respondia pela incidência mais elevada e R mais alto também.
Fim da gratuitidade mal visto
Dados que surgem no mês em que os utentes deixaram de beneficiar de dois testes gratuitos. "Achei muito cedo para abandonar essa estratégia", considera Carlos Antunes. Na mesma linha, o pneumologista Filipe Froes entende que a prorrogação da medida permitiria "desviar alguns recursos do SNS24" e "evitar casos positivos a transmitir na comunidade".
Tanto mais que, diz o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar, o fim da medida - "eventualmente, uma decisão precoce" - pode levar as pessoas a "dirigirem-se a uma unidade de saúde para que seja feito o teste". Nuno Jacinto revela sentir já uma maior procura de utentes. "Retirar este apoio acaba por aumentar a carga do outro lado, se calhar de forma desnecessária", conclui.
Questionado se admite retomar os testes gratuitos, o Ministério da Saúde não respondeu.
A saber
6 milhões de chamadas em 2021
No ano passado, de acordo com a SPMS, a Linha SNS24 atendeu mais de seis milhões de chamadas. Mas já neste ano, revelam ao JN, "foram atendidas, até à data, 5 milhões e 600 mil chamadas".
Novos casos na terça-feira
Registaram-se anteontem 14 918 novas infeções por SARS-CoV-2. É o valor mais alto desde o dia 7 de março. Na passada terça-feira, de acordo com dados da DGS, registaram-se 24 óbitos.