O antigo diretor de obstetrícia do Santa Maria, Diogo Ayres de Campos, exonerado por questionar o projeto de restruturação daquela unidade, manifestou a sua discordância com a estratégia seguida pelo SNS. O seu substituto, Alexandre Valentim Lourenço, diz que o plano de obras vai tornar o hospital mais "robusto".
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O projeto de reestruturação no Hospital de Santa Maria, que prevê a concentração de serviços no Hospital S. Francisco Xavier (Centro Hospitalar Lisboa Ocidental) enquanto o bloco de partos do hospital de Santa Maria estiver fechado para obras, está a causar polémica entre os profissionais de saúde da região.
Segundo Diogo Ayres de Campos, afastado, esta segunda-feira, de funções por questionar o projeto de reestruturação e a colaboração com o S. Francisco Xavier, a estratégia adotada no SNS para lidar com a falta de recursos humanos usa "os profissionais de saúde quase como meros peões de um jogo de xadrez, movimentados para tapar buracos aqui e ali”. E reforça que as equipas “precisam de ser envolvidas” e, acima de tudo, devem “ser ouvidas”.
Também esta manhã, o novo diretor de obstetrícia já defendeu o plano de obras do bloco de partos e considerou que vai tornar o hospital “mais robusto”, aumentando a capacidade da maternidade “para fazer mais partos no futuro”.
Estas declarações surgem após a divulgação de uma carta, envida por mais de 30 médicos do Santa Maria, colocando em causa o referido plano de obras no bloco de partos. Segundo o jornal “Público” que teve acesso à carta, os médicos questionam a capacidade das instalações do Hospital de São Francisco Xavier, onde existem “apenas 11 salas de partos (duas a menos do que as necessárias) e 38 camas de puerpério (16 a menos do que as necessárias)”.
Maior transporte entre hospitais
Outra das preocupações dos médicos está relacionada com o acesso das grávidas àquele hospital, uma vez que não é servido pela linha do metropolitano e “as alternativas de transporte público entre as duas instituições [o Santa Maria e o São Francisco Xavier] implicarem, no mínimo, a utilização de dois autocarros”.
Apontam, ainda, que a Jornada Mundial da Juventude, prevista para o início de agosto, tal como encerramento do bloco de partos do Santa Maria, vai implicar necessidades acrescidas do transporte entre hospitais, aumentando os constrangimentos para a mudança de instalações.
O novo diretor de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, Alexandre Valentim Lourenço, que substituiu Diogo Ayres Campos, mostrou-se solidário com as preocupações que os profissionais expressam na carta. Acreditando que o essencial, agora, é “garantir a segurança de todas as crianças que vão nascer nos próximos meses em Lisboa e na Área Metropolitana de Lisboa”. Admite, também, que o processo de mudança de instalações é sempre “confuso e doloroso”.
Recorde-se que a antiga direção de obstetrícia esteve envolvida na polémica transferência da grávida do Santa Maria para o São Francisco Xavier, em agosto do ano passado. Um relatório da IGAS aponta erros graves à atuação do Santa Maria. Segundo o documento, na altura o hospital ainda não tinha atualizado o seu regulamento à luz da nova orientação da DGS. A IGAS diz que o transpote não teria de ser equacionado, porque havia cama para o recém-nascido no Hospital de Santa Maria.