O PS foi ao Parlamento, esta quinta-feira, enaltecer a diminuição "histórica" do risco de pobreza em Portugal em 2021, ouvindo críticas de toda a Oposição. O PSD acusou o socialista Tiago Barbosa Ribeiro de fazer "propaganda política"; este respondeu que os Açores, governados por uma geringonça de Direita, foram a única região do país onde o risco de pobreza aumentou. À Esquerda, os partidos lembraram que os dados do INE ainda não refletem o aumento do custo de vida.
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"Os números do INE divulgados na semana passada são verdadeiramente históricos e estimulam-nos a seguir o caminho que nos trouxe até aqui", afirmou Barbosa Ribeiro. O deputado frisou que o número de portugueses em risco de pobreza baixou de 18,4% em 2020 para 16,4%, salientando que há menos 734 mil pessoas nessa situação face a 2015, ano em que o PS chegou ao poder.
Recordando a "pesada herança" deixada pelo último Governo de Direita em matéria de desigualdades, o socialista alegou que a reversão dessas políticas é "demorada". O PS, contudo, está apostado em fazê-lo, não só por "decência" mas, também, porque "uma sociedade desigual é uma sociedade doente, que mais facilmente fica à mercê dos extremismos e populismos".
As respostas não se fizeram esperar. A primeira a manifestar-se foi Ofélia Ramos, do PSD, que acusou Barbosa Ribeiro de fazer um "exercício de propaganda política". "Os portugueses estão cada vez mais pobres, agravam-se as desigualdades sociais e a classe média tende a desaparecer", considerou.
A deputada lembrou que Portugal é "o oitavo país da UE com maior risco de pobreza e exclusão social", salientando ainda que "quase metade da população" tem rendimentos abaixo do limiar da pobreza. O aumento do custo de vida "está a levar muitas pessoas ao desespero" e não são os apoios "pontuais" do PS que resolvem esse drama, defendeu.
PS lembra que pobreza só cresceu nos Açores, onde Direita governa
Também Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, acusou o PS de "montar o filme à sua maneira". Descrevendo os socialistas como "a grande máquina de fazer pobres em Portugal", considerou que estes precisam de ter "uma grande lata" para falarem em redução da pobreza. O Governo, alegou, atribui prestações sociais com o objetivo de "amarrar" o país ao PS.
Barbosa Ribeiro contra-atacou: "Sabem qual foi a única região do país que aumentou a taxa de risco de pobreza e de exclusão? Os Açores, depois de os senhores estarem lá a governar", atirou, argumentando que o Governo regional - do PSD desde 2020, apoiado por Chega, IL e CDS - deixou de conseguir promover políticas públicas por ter diminuído os impostos nos escalões mais altos, o que levou ao corte de apoios sociais.
Pedro Pinto também tinha questionado o que o Governo está a fazer para dar "trabalho digno" aos portugueses, levando Barbosa Ribeiro a recordar que já foram feitas "centenas" de propostas no grupo que atualmente discute a Agenda do Trabalho Digno e que nenhuma foi do Chega. "A única coisa que sabem fazer é barulho", referiu.
Bernardo Blanco, da IL, disse ser "falso" que há hoje menos 734 mil pessoas em risco de pobreza face a 2015, socorrendo-se de uma notícia do "Polígrafo". "São indicadores diferentes, metodologias diferentes e um dos dados é provisório", afirmou.
O liberal entraria, depois, em discussão com o socialista quanto à veracidade dessa descida. No que toca à diminuição de 2% das pessoas em risco de pobreza, considerou que "só houve a maior descida de sempre porque conseguiram, com a pandemia, fazer também a maior subida". Também desafiou o Governo a descer o IRC, o IRS e o IVA da energia, sustentando que as receitas vindas da carga fiscal "recorde" dariam margem para que tal ocorresse.
Dados não refletem inflação, lembram PCP e BE
À Esquerda, Alfredo Maia, do PCP, alertou que os dados do INE ainda não refletem o aumento do custo de vida verificado em 2020, antevendo que os próximos números tragam "más notícias". O deputado reconheceu que em 2021 houve "melhorias significativas", explicando-as com a redução do desemprego e o fim dos cortes ao abrigo do layoff' simplificado.
Ainda assim, o comunista destacou que a quantidade de pessoas que trabalham e, ainda assim, são pobres, está nos 10,3% (em 2019 eram 9,6%). Também contestou que a pobreza se deva ao "infortúnio", como tinha dito Barbosa Ribeiro; no entender de Alfredo Maia, a causa está nas desigualdades e no modelo "assente em baixos salários".
José Soeiro, do BE, também lembrou que os dados estatísticos estão, por definição, "sempre atrasados em relação à realidade". De 2021 para cá, frisou, a resposta do PS tem feito os portugueses perder poder de compra, já que "a política de compressão salarial é uma política de empobrecimento".
O parlamentar também abordou o problema "gravíssimo" na habitação, alertando que atualmente "não há casas acessíveis" para os salários e o poder de compra dos portugueses. Acusando o Governo de não produzir apenas "empobrecimento" mas, também, "desespero", Soeiro vincou que essa realidade deveria ser suficiente para o Executivo "perceber que está a falhar".